terça-feira, 8 de junho de 2010

"O Espírito de Dom Orione - A caridade"



"31. ECCE QUAM BONUM...
2. Ecce quam bonum et quam jucundum habitare fratres in unum! Como bem sabeis, este salmo se compõe só de quatro versículos, e em cada um dos quais se aponta uma das quatro grandes vantagens da santa união das almas em Deus, vantagens da fraternidade cristã e da suavíssima caridade da vida religiosa. São as seguintes: a) a inefável doçura; b) o bom odor de edificação; c) fecundidade espiritual; d) a abundância de todos os dons celestes. Com estes dons são abençoados por Deus os irmãos unidos e concordes, e todas as almas que vivem na caridade de Nosso Senhor. (...) É quanto refere Tertuliano no Apologético.
Numa tarde de calor ardente do século IV da era cristã, um soldado romano entrava com sua legião em Tebas do Egito. Era um centurião de família pagã, chamado Pacômio. Seus companheiros todos estavam arrasados pela fadiga e pela fome e já começavam a tropeçar e cair pelo chão. Eis, porém, que de choupanas e grutas escondidas na redondeza, começaram a sair homens, mulheres e jovens, que, movidos de compaixão, traziam socorro inesperado; com solicitude delicada e paciente; uns medicavam as feridas dos pobres legionários, outros e ofereciam água e alimentos para os soldados enfraquecidos.
Pacômio perguntou que gente amiga e misteriosa fosse aquela, e lhe responderam que eram cristãos. Naquela noite Pacômio não conseguiu dormir. Meditava no acontecido e pôs-se a chorar. Sentia que estava entrando numa grande e divina luz, numa grande e divina onda de Vida e de doce Caridade. Percebia que só Deus podia ser o autor de tudo aquilo, 'aquele Deus que tudo plenifica, que é conforto da alma e verdadeira alegria e felicidade do coração'. Pacômio sentiu-se fascinado por esse Deus, livre em Deus, livre na mais alta liberdade dos Filhos de Deus. E sentia que o Cristo, Deus vivo nascia nele, estava vivo dentro dele, ardia no seu peito: Cristo estava sendo edificado no coração dele pela caridade daqueles cristãos, daqueles irmãos felizes e concordes na caridade do Senhor. Cristo surgia da caridade e era Caridade. Compreendeu Pacômio que na unidade da verdadeira Fé nascia aquela união cristã dos ânimos e desta o desejo vivo de ser bênção para os outros: sentiu o seu espírito quanto é verdadeiro aquilo que o piedoso Autor da Imitação de Cristo muito depois escreveria, como humilde filho de São Bento, que 'nil altum, nil magnum, nil gratum, nil acceptum, nisi Deus, aut de Deo sit; nada é elevado, nada é grandioso, nada é agradável, nada é aceito por Deus, a não ser Deus ou o que de Deus procede', - e que uma centelha de caridade verdadeira vale bem mais que todas as coisas da terra, sempre tão cheias de vaidade . 'O qui scintillam haberet verae charitatis, perfecto omnia terrena sentiret plena esse vanitatis; oh, sim, quem possuísse uma centelha da verdadeira caridade, com certeza perceberia que todas as coisas da terra estão cheias de ilusões' (Imit. Crist., L. I, Capítulo XV, 11). Pacômio naquela noite não dormiu: Jesus estava no coração dele. Jesus o tinha tirado de um abismo de trevas para uma luz, para uma Vida nova e divina. Jesus o chamava a si com a doce e celeste força da caridade. Por isso Pacômio, não podendo mais resistir, e livremente querendo seguir Cristo, saiu da sua tenda e agitando a espada apontada para o céu, exclamou: Ó Deus dos cristãos, que ensinastes os homens a se amarem uns aos outros, eu também quero ser um dos teus adoradores! Pouco tempo depois aquele soldado recebia o batismo, e se tornava um santo, unindo-se ao grande abade Santo Antão e conduzindo aos desertos do Egito legiões de eremitas que cultivariam, por anos a fio, as terras, a indústria e as letras, e, muito mais ainda a santidade na fraterna e doce caridade. A alma guerreira, que jamais fora domada pela espada, estava agora vencida pela força e doçura da caridade. (p. 75 - 77) - foto dos religiosos orionitas em retiro na Casa de Valença em 1984.

Nenhum comentário: