quinta-feira, 17 de junho de 2010

CIRCULAR DO DIRETOR GERAL




"Fique bem determinado que a Pequena Obra é para os pobres" (continuação)

PELOS POBRES
“A missão confiada pela Providência”: será esse também o tema no próximo Capítulo geral. Falaremos dos “ministérios da caridade” e de “partir de novo da Patagônia” e de “partir de novo com a sacola”.

Na hora de fazer o nosso necessário e nada fácil discernimento de atualização, cai em cima de nós essa mensagem de Dom Orione, finca-se como um prego cravado no artigo 2 do famoso Capítulo I das Constituições, do dia 22 de julho de 1936, tudo escrito do seu próprio punho. “Fique, bem determinado que a Pequena Obra, toda e inteiramente confiada na infinita bondade e na ajuda da Divina Providência, querendo se conformar, da forma mais perfeitamente possível, com o exemplo deixado pelo Filho de Deus, é para os pobres, nos quais vê e serve a nosso Senhor Jesus Cristo, e quer ser fundada na humildade”. (Mais tarde, no artigo 4 do mesmo texto, Dom Orione reafirma: “Esta humilde Congregação, portanto, fundada unicamente sobre a infinita bondade e a ajuda da Divina Providência, é, essencialmente, para os pobres e para o povo, que ela quer elevar à luz e ao conforto da fé no Pai Celeste e a ter filial confiança na Igreja. Nos pequenos e nos pobres ela vê e serve Jesus Cristo”. Cf. também o art. 119 das atuais Constituições.). Esse texto está agora incluído no artigo 5 das nossas Constituições.

Com a inequívoca e categórica expressão “Fique bem determinado que a Pequena Obra é para os pobres”, Dom Orione quis por no fim carismático um vínculo referente às pessoas às quais se dirige a obra caritativa da Congregação. O fim eclesial-papalino (“levar à Igreja e ao Papa”) a ser perseguido “mediante as obras de caridade” é determinado, e muito “bem determinado” pela escolha dos destinatários. “Nós somos para os mais pobres, para os mais pobres. Os trapos da Divina Providência são para os filhos das classes humildes, mais proletárias, mais necessitadas... Digo isto e insisto para traçar o sulco, e não é a primeira vez". (Sui passi di Don Orione 105.).

Em um escrito muito significativo sobre o fim carismático, depois de haver recordado os Jesuítas, Scolopi, Barnabitas, Salesianos, Maristas “e outras comunidades del genere”, afirma “outra Missão e outro vastíssimo campo nos tem aberto a Divina Providência. Nós somos chamados a ser os filhos da Divina Providência, a mão da Divina Providência, os instrumentos inteligentes da Divina Providência para aqueles, para todos aqueles que, não sendo já provvisti da providência humana, têm necessidade, e muito mais necessidade, da Providência Divina”. (Scritti 96, 193.).

Como já nos tempos de Jesus se discutia “quem é o meu próximo?”, sucede hoje que se discuta sobre “quem são os pobres?”, quais são “os novos pobres?” aos quais a Congregação se deve dirigir.

São discursos que, através de discernimento também se precisa fazer, evitando a criação de irreverentes classificações.

A primeira resposta de Dom Orione, que toma as palavras de São Paulo, seria certamente: “omnibus omnia ad instaurare omnia in Christo”, “fazer-se tudo para todos para levar todos a Cristo ”. (“O coração de um filho da Divina Providência deve ser um mar de caridade porque nunca haverá obra de caridade que não entre no âmbito da nossa vida: temos que ter um coração grande e o coração quem no-lo deve dar e formar é Jesus! Meu filho, eu te recomendo que vivas e respires Jesus; só Jesus pode formar em nós o coração bom e grande: omnibus omnia ad instaurare omnia in Christo”.). De fato, na ação e na palavra de Dom Orione, se encontram muitas vezes amplos e variados elencos de pobres: “doentes, gente com dores, sofredores, deformes, repugnantes, abandonados, rejeitados, feridos (dilacerados, rebotalhos), pobres, solitários, excluídos, pecadores, errantes, etc.”. (Deixo de citar listas, aliás, sempre incompletas.). Um elenco infinito, resumido, no alto lirismo da caridade, no famoso brado “Almas e almas”, (Sui passi di Don Orione, p.253-254.). a ser completado com a outra igualmente infinita “enfiada de obras” de caridade elencada no Capítulo I das Constituições de 1936. (Veja-se o caderno de A. Lanza dedicado a Le Costituzioni della Piccola Opera della Divina Provvidenza, “Messaggi di Don Orione”, n.76, 1991; autografo in Scritti 52, 64-65.).

“Para os pobres” significa para todos os pobres. Mas em Dom Orione há muito mais. Se por um lado é evidente a universalidade de destinação e de ação caritativa, por outra parte fica clara também a sua concentração carismática: “Nós somos para os pobres, ou melhor, para os mais pobres e mais abandonados”, (Spirito di Don Orione II, 71.) “Esta humilde Congregação é para os pobres, exclusivamente para os pobres”. (Spirito di Don Orione I, 36.).

Que entendia Dom Orione, com a expressão, “os mais pobres?”. Eis o que pode ser uma definição: “os mais pobres entre todos os pobres, aqueles, isto é, de que ninguém cuida e que nem podem ser acolhidos em outros Institutos”. (Scritti, 108, 55.). De fato, “Aqueles que gozam de proteção por parte de outrem, para esses já existe alguma providência humana; nós que somos filhos da Divina Providência, não existimos senão para socorrer a quem está em falta de tudo e para quem não existe nenhuma providência humana”. (“Nós não somos chamados para os nobres, para os filhos dos ricos, para as classes sociais altas. Os Filhos da Divina Providência vivemos da graça de Deus, da vida de trabalho e na pobreza, existimos só para os pobres, devemos viver para os pobres, para os mais pobres, para os rejeitados, para os desamparados (para os abandonados) da sociedade”; de Spirito di Don Orione V, 107.) “Os mais pobres” são “os mais abandonados”, “os desamparados”, os menos socorridos pelas outras instâncias de providências.

Dom Orione, ao abrir obras, tinha ainda outros critérios de discernimento (as possibilidades concretas, as necessidades do povo, as indicações dos pastores da Igreja, etc.), mas, logo que pudesse, privilegiava a caridade para com “os mais abandonados, e mais desamparados” porque esse era o sentido público e simples, eficaz e mais significativo, “para fazer experimentar a Providência de Deus e a maternidade da Igreja”.

A instituição-símbolo fundada no critério da preferência pelos mais pobres, no sentido de menos atendidos pelas providências humanas, foi e é certamente o Pequeno Cotolengo.

Para São José Benedetto Cottolengo, como também para Dom Orione, “entre todos os pobres, o Pequeno Cotolengo é o lar que acolhe os que são os mais abandonados e rejeitados pela sociedade. Para alguém ser recebido é condição não ter encontrado acolhimento algum por parte de ninguém”. (Scritti 81, 226.).

Nos tempos de nossos Fundadores, as categorias mais abandonadas e rejeitadas eram as dos então chamados “rebotalhos da sociedade”, isto é, os deficientes físicos e mentais. Eram tantos os acolhidos dessa categoria que a Pequena Casa de Turim e os nossos Pequenos Cotolengos foram popularmente identificados como os lugares de acolhida para pessoas nessas condições. Mas, de fato, o Cotolengo estava “aberto a todos os que a sociedade rejeitava”, (Scritti 97, 251.) “para quem não encontrasse outro refúgio”. Por isso hospedava, com surpreendente convivência, órfãos, anciãos abandonados ou com dificuldades de adaptação devido aos mais variados problemas (hoje seriam classificados como out cast, border line, isto é, pessoas marginalizadas, sem condição de permanência em lugar, ocupação ou instituição que de que se tenha conhecimento).

Ainda hoje existem pessoas e grandes faixas de pessoas que estão do lado de fora da mesa prevista do bem-estar, não são julgadas idôneas e não acham o seu lugar de inserção nas instituições subvencionadas pela providência-previdência social. E nós, somos ainda capazes de abrir espaços para essas pessoas? Com que tipo de obras ou serviços poderemos manter para elas “aberta a porta do Pequeno Cotolengo” ou abrir outras portas mais apropriadas às situações sociais e mais conformes às legislações de hoje? (A tradicional tipologia de Pequeno Cotolengo vai desaparecendo na Itália e em outras nações, onde começam a vigorar legislações de saúde social mais evoluídas e mais exigentes. Mas não estão desaparecendo as pessoas e faixas de pobres desprovidos de tudo. O Pequeno Cotolengo, “arca de Noé” no qual há sempre um lugar para as mais variadas misérias e emergências, está se transformando, na maioria dos casos, em um lar de saúde otimizada e financiada para determinadas categorias, mais comumente, para anciãos e doentes crônicos ou pessoas com graves problemas de saúde.).

“Fique bem determinado que a Pequena Obra é para os pobres”. Esse cravo irremovível de nosso carisma institucional não vale somente para os Pequenos Cotolengos e para nossas outras instituições caritativo-assistenciais. Vale também para as nossas “paróquias em ambientes pobres”, (A Norma 132: “Aceitam paróquias situadas em locais pobres, onde haja possibilidade de um testemunho de caridade nas formas que os tempos e as necessidades vierem a requerer, dispostos a devolvê-las, caso aconteça mudança do contexto sócio – econômico”.) e para as “escolas e colégios para rapazes pobres e de bairros operários”. (Falando de escolas de certas ordens religiosas, Dom Orione advertia: “Muitas Congregações começaram com os filhos dos pobres e, aos poucos, acabaram por se dedicar aos ricos. Assim, admoestava aos Formandos da Congregação por ele fundada: Cuidado vós que sois jovens, que os Filhos da Divina Providência não acabem, eles também, a se dedicar aos ricos”; Parola do dia 27.8.1924, III, 54). - Foto de Pe. Giovanni Grossholz com o Diretor geral Pe. Flávio Peloso - (Continua amanhã.)

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