quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

NA TENDA COM JESUS. EXPERIENCIANDO CRISTO NA ÌNDIA.

“Lançar-se ao mundo”. Nem que fosse por um dia todos deveriam dar-se ao luxo dessa experiência. E ela não seria simplesmente aventura – ou loucura, para alguns – mas oportunidade de vislumbrar a verdade universal e plural que subjaz na diversidade de culturas, cores, hábitos e costumes de todos os povos em cada parte do planeta. E uma vez que ela é sentida e degustada pelo conhecimento – pois só podemos realmente conhecer o que tem gosto, o que nos chega pelos sentidos, pela experiência mesma em útima instância – então seremos capazes de compreender o que é a vida.

“Estou convencido das minhas próprias limitações - e esta convicção é minha força” (Gandhi)

Foi ao lançar-me nesta empreitada, imbuído não só de coragem, mas também de uma certa dose de covardia, que aceitei vir pra India. Sim, por que o corajoso não é o que não tem medo de nada (esse é o idiota) mas sim aquele que supera e enfrenta seus medos e temores. Foi compelido não por vontade humana, mas Divina que, portanto, eu aceitei este desafio. Deus tem sido, desde o primeiro momento, não só a força propulsora da minha missão, mas também a suprema fonte e raiz da minha vocação missionária. Jesus não me “enviou” para um lugar distante, mas me convidou para vir à Índia com Ele. E nesta caminhada com Jesus aprendi que o local do encontro com o Senhor não é só o Templo, fixo e estável em si mesmo, mas também na tenda que facilmente pode ser desmontada e carregada para onde quer que Ele deseje.

“De modo suave, você pode sacudir o mundo”. (Gandhi)

Ao chegar numa terra tão distante e tão diferente daquela onde nascemos o primeiro sentimento que se aflora é o inevitável senso de incapacidade ou até mesmo inutilidade. Senti isso por um período considerável e confesso que não foi fácil de lidar com isso. Na verdade, creio que esse sentimento foi motivado por um exagerado medo de não me inculturar, ou melhor, de ferir a cultura destes que me receberam. Mas uma vez que o processo de inculturação é lento e doloroso, não há quem não se sinta incapaz de dar passos. A questão é como lidar com isso sem causar grandes problemas pra você e para o povo que lhe circunda. E o meu modo foi, num primeiro instante, o de fazer bem feito as pequenas coisas que me foram confiadas e, fazendo-as, senti-me mais que útil, senti-me “inteiro” e inevitalvelmente disposto a dar o segundo passo. Aprendi, assim, que não é o tamanho da ação que importa, mas sim o tanto de amor que colocamos nela.

É melhor que fale por nós a nossa vida, que as nossas palavras. (Gandhi)

Quando se chega à Índia, após um olhar apurado, não é difícil de se compreender o porque de duas das maiores personalidades do século XX terem vivido aqui. Me refiro a Madre Tereza de Calcutá e Mahatma Gandhi. A diversidade de culturas que compõem a fascinante colcha de retalhos de nação indiana é tão vasta quanto existem estrelas no céu e o modo como vivem praticamente em paz uma com as outras é digno de nota (com excessão, é claro, de certos grupos radicais indus e muçulmanos). Para citar um exemplo, são 28 línguas oficiais e existem mais 62 esperando aprovação do Congresso para serem oficializadas, o que produziria, entre tantas outras consequências, uma cédula monetária na qual o valor da moeda estaria escrito em 80 línguas! (Agora tente imaginar o tamanho que ficaria cada cédula de rúpia). Assim, não posso deixar de expor as dificuldades de comunição. Em Bangalore se falam quase 7 diferentes línguas. Não há como não buscar outra fonte de comunicação senão sua própria vida. Na Índia, uma ação vale mais que mil palavras, literalmente falando. Aprendi que atos de amor são como moeda de ouro, valem em toda parte.

O amor é a força mais abstrata, e também a mais potente que há no mundo. (Gandhi)

A Vida Religiosa hoje prefere seguir os passos de Jesus que imitá-lo. Isso nos indica todo um caminho a ser “ainda” descoberto, já que ele é sempre diferente em cada realidade. Não há fronteiras que não possam ser rompidas pelo amor de Cristo, bastando para isso apenas a coragem de pessoas que vivam o evangelho e seus paradoxos sem medo. O que quero dizer é que somos também convidados a “evangelizar as culturas”, o que não implicaria simplesmente “indicar valores e condenar erros”, mas também aprender tantas outras manifestações do amor genuíno de Deus presente em cada povo. Para isso, sabe-se, a exigência maior é saber amar. Por isso escolhemos viver com Jesus numa tenda. Não há nada que possa nos assustar, uma vez que podemos nos mudar sempre. Mais ainda, viver na tenda significa estar totalmente aberto àquelas manifestações de Deus nesta cultura, nesta realidade, neste povo. O sagrado não é mais o intocável e eterno, fixo e longínquo. Ao contrário, é a experiência de Deus vivida genuinamente pelo povo sofrido, os preferidos do Reino, os servos de Javé e partilhada na caminhada rumo ao Reino de Jesus. O que Ele nos ensinou foi amar, isto é, ele nos deu a mais poderosa força do universo. E que todos os povos conheçam esse poder!

Cl. Clayton Munhoz, FDP

4 comentários:

Orionmundi disse...

Valeu clayton. Vou falar com o provincial prá publicarmos o iluminado texto na circular px.
Agora só falta parar de ser palmeirense.
Até o Everton que não gosta de textos longos no blog vai apreciar.
Viva a India.

Orionmundi disse...

Clayton recebemos duas mensagem parabenizando pelo texto. De fato você escreve com alma.

Anônimo disse...

Belo texto! Para lê-los vale navegar diariamente no orion mundi...

OI OI OI disse...

Agradeço aos comentários, isso me dá força para continuar escrevendo.