sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Circular do Diretor geral em nove dias

O ORIONITA SACERDOTE
Unidade de vocação e especificidade de ministério

Quarto dia
Dualismo vocacional e desvio para a figura diocesana
No imaginário coletivo a figura do sacerdote está naturalmente identificada com o sacerdote-pároco ou o sacerdote na paróquia, o sacerdote diocesano.

Nos últimos 40 anos, depois do Concílio Vaticano II, esse tipo de sacerdote se tornou o modelo público e como que o único do ministério sacerdotal. O sacerdócio vivido segundo os carismas de vida religiosa (anteriormente a forma predominante) se tornou secundário em relação ao sacerdócio institucional, ligado à paróquia, à diocese e ao território.

Observa-se que “a figura do religioso presbítero foi deixada na sombra, não só na literatura teológica e pastoral, mas ainda pelos próprios documentos oficiais. tanto do magistério como da vida religiosa”.[Cfr. A. Montan in CISM, Il religioso presbitero nella Chiesa oggi, Il Calamo, Roma, 2005, p.8. O tema é em si mesmo complexo pois, como observa S. Dianich, “a figura do padre religioso se define por duas conotações não homólogas, em quanto ser padre diz respeito a um ministério que pode ser exercido em diversos estados de vida, ao passo que ser religioso se refere a um estado de vida no qual podem ser exercitados diversos ministérios”; Ministeri e ministero ordinato nella vita dei religiosi, in “Homo vivens” 11 (2000), p.380.] Com exceção de algum texto significativo,[Paolo VI evidenciou a “especial configuração do Religioso Sacerdote com Cristo Sacerdote” e a “conexão especial entre as duas consagrações”; Discurso aos Superiores Maiores do dia 18/11/1966. João Paulo II, na audiência geral do dia 15/02/1995, falou explicitamente do religioso sacerdote, com o substantivo “religioso” antes do sacerdote. Vita Consecrata 30 toca o tema e afirma que “a vocação ao sacerdócio e à vida consagrada convergem em profunda e dinâmica unidade”. Interessantes são as disposições da Instrução Potissimum institutioni sobre a formação nos Institutos religiosos (1990) a respeito da “especificidade religiosa dos religiosos sacerdotes e diáconos” (n.108) e “o lugar dos religiosos sacerdotes no meio do clero diocesano” (n.109).] habitualmente quando se faz menção de religioso sacerdote, a sua figura e o seu papel são apresentados em circunlocuções do tipo “pro sua parte”, “igualmente o sacerdote religioso”, “por quanto possível”, aplicando ao sacerdote religioso quanto se disse a respeito do sacerdote diocesano. Inclusive a norma do Código sobre o sacerdócio diz respeito simplesmente ao sacerdote enquanto tal e a norma sobre a vida religiosa trata do religioso em geral.[Como observa Mons. Velasio De Paolis, perito canonista e atual Presidente da Prefeitura para os Assuntos Econômicos da Santa Sé, o Código se move em dois planos distintos: o dos clérigos, deixando praticamente de lado os religiosos, e o dos religiosos, como que prescindindo dos clérigos, e cala sobre a distinção de presbítero enquanto diocesano e de presbítero enquanto religioso; O presbítero religioso e o presbítero secular hoje in O religioso presbítero na Igreja hoje, cit., p.121-152.]

Num mundo “secularizado” e “a ser evangelizado”, a dinâmica religioso-carismática a ser exercida pelo sacerdócio, que mira mais sobre o testemunho espiritual e caritativo, adquire um novo relevo e necessidade, em distinção e colaboração com a dinâmica diocesano-territorial. E, no entanto, a orientação atual, prevalente e crescente, é a de encaminhar também os religiosos sacerdotes ao serviço paroquial-territorial. [ Não me resulta que haja dados sobre o número de religiosos sacerdotes inseridos no ministério paroquial. Nossa Congregação tem a responsabilidade de 120 paróquias, contando com um total de 668 religiosos sacerdotes, incluindo os idosos e enfermos. A decisão 4 do 12° Capítulo geral reconheceu que “cresce o número de religiosos que estão inseridos nesta pastoral” e portanto decidiu “formular com urgência o projeto orionita de pastoral paroquial, cuidando da formação específica orionita dos párocos e dos colaboradores, tornando-os conscientes de que são parte de uma comunidade religiosa”.]

Muitos reconhecem nesta prevalência “diocesana” na concepção e na prática do ministério sacerdotal – assimilada inclusive pelos próprios religiosos – um dos fatores da crise da identidade do religioso sacerdote e da vida religiosa de forma geral.

Teólogos da vida religiosa [Rossano Zas Friz De Col, A condição atual do presbítero religioso na Igreja, in “Rassegna di Teologia” 45 (2004) 35-71 e A identidade eclesial do presbítero religioso. O caso dos Jesuítas, “Revista de Teologia” 45 (2004) 325-360; O religioso presbítero na Igreja hoje, cit., que recolhe as atas de um seminário de estudo promovido em Roma pelos Superiores Maiores e que examinou o tema sob o ângulo de diversas perspectivas, histórica, teológica, jurídica, espiritual.] e superiores religiosos apontam a necessidade de uma mais identificada compreensão e valorização do religioso sacerdote no quadro de uma realização pluralística do ministério ordenado na Igreja, na linha da Encíclica Pastores dabo vobis 31 e 74, onde se afirma que “os sacerdotes, que pertencem a ordens e a congregações religiosas, são uma riqueza espiritual para o inteiro presbitério diocesano, ao qual oferecem a contribuição de seus específicos carismas e de ministérios qualificados”. [ Sempre houve um exercício pluriforme do ministério sacerdotal; a forma secular-diocesana de exercitar o ministério sacerdotal é uma delas. O problema é existencial mais do que teológico. “O religioso sacerdote tem por trás de si uma tradição que o colocou a exercer o seu ministério, em autonomia do bispo, em sentido transversal às igrejas locais e em estreita dependência do ministério papal”; S. Dianich, Ministérios e ministério ordenado na vida dos religiosos, cit., p.393.] Dessa forma é recomendado um exercício pluriforme do ministério sacerdotal, segundo os carismas da vida religiosa, e uma tal comunhão diocesana dos religiosos sacerdotes que evite a sua diocesenização, o que constituiria um empobrecimento e não um enriquecimento para a missão da Igreja.

É a partir da consagração/missão segundo o carisma que se poderá superar o dualismo de religioso “e” sacerdote. Os diversos ministérios da caridade, inclusive o sacerdotal, são, de fato, funcionais em relação ao único fim apostólico carismático organicamente intrínseco à missão da Igreja. Aqui está a unidade e a igualdade entre religiosos sacerdotes e religiosos irmãos e aqui está a unidade vocacional do religioso sacerdote.

(Leia amanhã o quinto dia: "Carisma e identidade do orionita sacerdote")





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