Unidade de vocação e especificidade de ministério
Oitavo dia: "O ano sacerdotal e o exemplo do santo Cura d’Ars"
O ano sacerdotal é uma ocasião pastoral para tornar conhecida e amada a vocação e o serviço sacerdotal. Esperemos que sirva também para tornar conhecida e amada a específica vocação do religioso e do orionita sacerdote.
O Papa, entre as muitas figuras de santos sacerdotes, apresentou como modelo para o Ano Sacerdotal São João Maria Vianney. Uma figura de pároco de paróquia, porém a sua grandeza sacerdotal dá também para nós religiosos ótimos estímulos espirituais. Dom Orione costumava apresentá-lo como modelo de sacerdote, a ponto de nomeá-lo entre os seu santos intercessores no “Plano e programa da Pequena Obra da Divina Providência” [Carta do dia 11/02/1903 ao Bispo Dom Bandi para a aprovação da Congregação; Lettere I, 11-22] e a ponto de marcar, na hora da refeição, a leitura da "vida do Venerável Cotolengo e do Cura d'Ars".
Dom Orione exaltava a pureza, o ardor, a caridade, “o ardor do tão humilde Cura d’Ars”, observando que “O Santo Cura d’Ars, a quem foi entregue a Paróquia porque alguém insinuou que, afinal das contas, ele sabia rezar o Pai Nosso, a Ave Maria e o Credo, e, no entanto, ele se mostrou o maior e melhor confessor da França” (Parola IX, 498). “Como foi possível que o santo Cura d’Ars se tenha tornado o mais famoso confessor da França? Ele que, intelectualmente falando, era um quase descartado? Porque ele foi um profundo adorador da Eucaristia que cultivava o espírito de oração” (Parola IX, 395).
Dom Orione apresentava São João Maria Vianney, ao lado de São Francisco de Sales, de Dom Bosco, de São Vicente de Paulo, como exemplo de paz interior: “eles eram inimigos da pressa, e ninguém trabalhou mais do que eles! Gente de valia!” [Scritti 33,47. Bento XVI recorda ainda como o Santo Cura exercitava os ministérios da caridade, "visitava sistematicamente os enfermos e as famílias; organizava missões populares e festas patronais; recolhia e administrava o dinheiro para as suas obras caritativas e missionárias; embelezava a sua igreja e a dotava de adornos sagrados; ocupava-se das meninas órfãs da "Providence" (um instituto por ele fundado) e das educadoras; preocupava-se com a instrução das crianças; criou confrarias e convocava os leigos para colaborar com ele"; Carta da instituição do Ano Sacerdotal, cit.]. Por outra parte observava Dom Orione que “O trabalho é a paz dos santos. Na vida dos santos não existe o “dolce far niente”(“sombra e água fresca”). Dom Bosco batalhava até arrebentar as pernas. Lacordaire, falando do Cura d’Ars, afirmou que ele tinha a ciência de Cristo” (Parola III, 41).
Em seus escritos Dom Orione cita o Cura d’Ars e muitas vezes repete a conhecida pergunta dele: “Que seria o mundo sem os Sacerdotes? E respondia o próprio Beato Cura d’Ars: a sociedade sem o sacerdócio seria uma jaula de animais ferozes, e o mundo recairia na pior barbárie" (Scritti 46, 218 e 56, 127).
Além da admiração, Dom Orione tinha devoção. Em seu caderno de celebrações anotou: “Recebi de um Padre velhinho, que me atendeu em confissão… um pedacinho de pano da batina do Beato Cura d’Ars” (Scritti 92, 17). Escrevendo a um sacerdote doente recomendou-lhe: “Procura um bom médico e vai fazer uma consulta e depois começa uma novena a São João Bosco e ao Santo Cura d’Ars” (Scritti 43, 212).
Mais ainda. Entre a espiritualidade de São João Maria Vianney e a de Dom Orione há muita afinidade.
O Pe. Venturelli qualifica a fé que havia em Dom Orione como “extremamente simples, fé que ia ao cerne… semelhante, à do Santo Cura d’Ars” (Positio super virtutibus, p.987). E também o Pe. Giuseppe Del Corno testemunhou: “Fazia-me grande impressão o espírito e o estilo das cartas que Dom Orione mandava da América. Nelas eu sempre notava algo do espírito e do estilo do Santo Cura d’Ars” (Ibidem, p.104).
Nosso Santo fundador assemelhou-se as Cura d’Ars sobretudo na paixão pelas Almas e na misericórdia para com os pecadores. Dom Orione desejava “abraçar a todos, exceto ao diabo e, se possível fosse, também a ele; abraçar a todos, menos ao erro manifesto; os transviados não só acolhê-los, mas correr atrás deles” (Scritti 81, 122). Movido pelo ímpeto da caridade chegou ao ponto de escrever: “Almas! Almas! Todas são amadas por Cristo, por todas Cristo deu a vida, todas Cristo quer salvas, entre seus braços e seu coração transpassado. Põe-me, Senhor, na boca do inferno, para que eu, pela tua misericórdia, o feche!”. [Nel nome della Divina Providenza, 136]
Expressões hiperbólicas para impressionar leitores ou ouvintes? Também São Paulo, usou palavras bem semelhantes quando disse: “Quisera verdadeiramente ser eu próprio anatematizado, separado de Cristo em favor de meus irmãos” (Rm 9,1-3). Nessa linha de ardor apostólico se movia igualmente o amável santo Cura d’Ars que gostaria de colocar seu confessionário na porta do inferno. “Se os infelizes condenados que estão no Inferno há tanto tempo ouvissem dizer: ‘Vai ser colocado um padre na entrada do inferno e todos que quiserem se confessar não precisam fazer mais nada, senão, irem-se embora; filhos meus, achais que sobraria alguém lá? Oh! num piscar dos olhos o inferno estaria vazio e o céu se encheria!”. [Pensieri e fioretti del Santo Curato d'Ars, Ed. San Paolo, 1999.]
Ajudem-nos os exemplos do Cura d’Ars a vitalizar este ano sacerdotal e cresça o nosso zelo pelas Almas e a caridade pastoral, nutrida pela experiência da caridade de Deus. Como Bento XVI observou, “O Cura d’Ars, em seu tempo, soube transformar o coração e a vida de tantas pessoas, porque foi capaz de fazê-las perceber o amor misericordioso do Senhor. Urge em nosso tempo fazer ecoar essa boa nova pelo testemunho da verdade do Amor: Deus caritas est (1Jo 4,8)”. [Carta de instituição do Ano Sacerdotal, cit.].
Fazer experimentar a verdade do Amor de Deus - Dom Orione diria “mediante as obras de caridade fazer experimentar a Providência de Deus” – é o dinamismo gerador da identidade do orionita sacerdote e de toda outra vocação orionita.
(Leia amanhã o nono e último dia: "Conclusão")
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