Natal, a festa do encontro e da vida
“Não temais. Vede: dou-vos uma boa notícia, uma grande alegria para todo o povo: hoje nasceu para vós na cidade de Davi o Salvador, o Messias e Senhor.” (Lc 2, 10ss)
Chegamos ao final de mais um ano. E fim de ano é sempre um momento muito esperado, pois é tempo de festa, de encontro entre as famílias e entre os amigos.
A festa maior deste período, para os cristãos, é a celebração do Natal, do nascimento do menino Jesus. Reunimo-nos em família, em comunidade, entre amigos para celebrar este grande acontecimento.
E celebrar é muito importante, é uma ação comunitária e festiva que tem a ver com tornar célebre, importante, inesquecível; é destacar do cotidiano, é ressaltar o significado, o sentido profundo que um acontecimento ou pessoa tem para um determinado grupo. Portanto, celebrar é uma atitude própria dos homens, porque é fazer memória, é tornar célebre um fato passado e resgatar a sua importância para a história, seja da pessoa, seja da humanidade. Por isso, o ato de celebrar se reveste de um significado muito especial, porque só se celebra o que tem algum valor histórico.
Ao celebrarmos o Natal do Senhor, trazemos à memória o maior dos fatos que se tem conhecimento na história da humanidade, a encarnação de Deus em nossa história. A beleza do prólogo do Evangelho de João nos diz que: “No princípio já existia a Palavra e a Palavra se dirigia a Deus e a Palavra era Deus (...) A Palavra se fez homem e acampou entre nós.” (Jo 1, 1.14). Deus se dignou vir até nós na simplicidade e fragilidade de uma criança, no seio de uma simples e pobre mulher, Maria. A encarnação de Jesus revela a pedagogia divina: Deus escolhe os fracos e os pequenos para fazer grandes maravilhas no meio da humanidade. Não optou pelos caminhos do poder, não nasceu em confortável maternidade, mas na estrebaria, numa manjedoura.
A festa do Natal é a festa do maravilhoso encontro entre Deus e a humanidade; não é um encontro qualquer, é o encontro da divindade com a nossa humanidade, encontro de amor e de ternura, gerador de comunhão e de realização. É um verdadeiro intercâmbio de dons: Deus se doa totalmente a nós, assumindo em tudo a nossa humanidade, exceto o pecado, para que nós participássemos de sua vida. Em Jesus Cristo realizou-se de modo perfeito a comunhão entre Deus e o homem. Em Cristo, Deus e homem se tornaram um só. A natureza divina e a humana em Jesus Cristo são uma só pessoa. Este é o mistério de Deus, o plano de realizar a união de vida e de amor com o homem. Em Jesus Cristo se dá a verdadeira passagem de Deus pelo mundo dos homens e a passagem do homem para a esfera de Deus. Nele toda a humanidade estava presente e foi reconciliada. Por meio dele, apesar do pecado, o homem poderá realizar novamente sua vocação integral de comunhão de vida e de amor com Deus.
Mas celebrar o Natal não significa só recordar e fazer festa pelo nascimento de Jesus. Celebrar o Natal é também comprometer-se com a sua causa, pela qual ele deu a sua vida na cruz.
E a grande causa de Jesus foi, sem dúvida, o seu compromisso com a vida, com a dignidade humana. A própria encarnação de Jesus aponta para isso. Deus, ao assumir a nossa humanidade não se desvaloriza, não deixa de ser Deus; pelo contrário, é a nossa humanidade que é dotada de grande valor, é elevada, é dignificada.
Em sua vida pública Jesus se aproximou dos que eram excluídos, perdoou os que eram considerados impuros por causa dos pecados, curou os doentes, expulsou demônios. Todos os seus gestos foram em favor da vida, manifestando a pedagogia divina da inclusão humana.
Deus, em Jesus, se manifestou como o grande amigo da vida e também nós somos interpelados a sê-lo, em todos os sentidos. Hoje, mesmo com tantos avanços na ciência e na técnica, que poderiam qualificar, em muito, a vida humana (muito se tem feito), encontramos situações em que a ciência e a técnica não primam pela valorização da dignidade humana: guerras com armas cada vez mais sofisticadas, degradação ambiental em nome do progresso, pesquisas no campo da genética humana sem o compromisso com a ética.
A vida é um dom de Deus; Deus é autor e dono. A vida é o maior presente que Deus nos deu e, em consequência, somos interpelados a fazer dela o nosso presente para Deus. Tendo a sua origem em Deus, a vida é revestida de sacralidade e como tal é um bem inalienável e um direito inviolável. É o primeiro direito na hierarquia dos direitos humanos. É um paradoxo falar de direitos humanos sem a garantia do direito fundamental, que é o direito à vida e seus correlatos.
Portanto, celebrar o Natal é celebrar a vida e o nosso compromisso de sermos administradores deste bem maior. Assim, à luz da nossa fé no Deus da vida, fica excluído todo atentado à vida, desde sua concepção até o seu fim natural, bem como ao seu estágio intermediário. É preciso dizer não a toda espécie de violência, ao terrorismo, à fome, à miséria, ao desemprego, ao alcoolismo, às drogas, à corrupção no meio político. Enfim, é necessário renunciar a tudo que atenta contra a dignidade da vida. Deve, pois, prevalecer o grande ensinamento de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância.” (Jo 10, 10).
Pe. Erli Lopes Cardoso
Secretário Provincial – Brasil Norte
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