42. UMA NOVA CIVILIZAÇÃO: ESPÁRTACO OU PAULO?
[ Dom Orione, por ocasião da inauguração do Instituto "Berna" de Mestre em 1921, fez um discurso inaugural vibrante; temos ainda um bem desenvolvido rascunho desse discurso. Falando da situação social daqueles tempos, ele fez um interessante paralelo entre a liberdade tentada por Espártaco e a proposta por Paulo e pelo cristianismo. Vejamos alguns trechos:]
Espártaco é o desespero e a confiança na força bruta; Paulo é a força da caridade. Quem poderá dar à humanidade a sua grandeza moral? Espártaco ou Paulo? Hoje em dia, fatos gravíssimos e um ar que se respira no meio dos povos anunciam tempestades. A questão social tomou uma forma nova e se torna tão ameaçadora e audaciosa, que dá calafrios a todas as nações civilizadas. Em relação às populações, o que se vê é que, quanto maior a falta da fé, tanto mais cresce a sede ardente do dinheiro e dos prazeres, até o ponto de se desnortearem as pessoas, num furor selvagem. Quem tem pouco quer muito; quem tem muito quer cada vez mais. Se riqueza e prazer são tudo para o homem, se não há bem nenhum, além da vida presente, se todo meio que sirva para ganhar dinheiro é bom... "por que então, grita o povo enlouquecido e despojado da fé, por que na sociedade humana um tem que ser pobre e o outro pode ser rico?". Depois da Roma dos Césares, sobreveio outra Roma... Assim também, depois daquela unidade do mundo conseguida pela força, haverá de suceder a unidade das inteligências sob a obediência de Cristo.
Uma grandeza moral oposta ao terror das armas reinará e será ela a característica dos novos povos; uma nova ordem das coisas e das ideias, centrada na força da verdade e do amor surgirá para a redenção dos povos. A violência desgraçou o mundo; a caridade o salvará. Devemos destruir as obras das trevas e revestirmo-nos das armas da luz. E fazer o bem a todos sem distinção de classes e de partidos, fazer o bem sempre, até o sacrifício de nós mesmos. Só então resplandecerão sobre a nossa Pátria e sobre o mundo dias melhores. A força divide os homens: a caridade os une. A liberdade não tem sua força na força, mas no princípio moral, e se ele se enfraquece, até mesmo o povo mais forte se perde. Não há mais grego, nem circunciso ou incircunciso, não há mais livre ou escravo: mas uma comunhão de santos! É uma revelação de Deus e um poema admirável da caridade e uma luz nova que toma conta do mundo e faz da caridade a grande lei de vida para os homens. A natureza humana não tem força intrínseca para regenerar-se a si mesma: Catão se suicidou entre as ruínas humanas da liberdade; a virtude íntima, que deve regenerar o mundo, não é criação nem propriedade dos homens. Com Espártaco o homem é força, mas continua uma coisa; com Paulo é uma força, mas é libertado e filho de Deus e seu herdeiro. O mundo civil é governado principalmente pelo pensamento e pelo amor, e nenhuma coisa tem tanta eficácia no pensamento e no amor, quanto o Cristianismo. A proposta cristã de governo, ora é acolhida, ora é combatida, muitas vezes é negada e contradita; em algumas horas ou anos da vida parece vencida e aniquilada pela torrente das paixões humanas, mas é uma proposta de governo de amor, que Deus fez nascer no mundo, e que por isso jamais será vencida. O amor, portanto, e não o ódio, poderá compor as divergências entre os indivíduos, entre as diversas classes sociais e aplacar os ardentes e facciosos partidos que hoje tornam incerto o futuro de nossa Pátria e do mundo. E esse amor não pode ser senão Cristo. Ele, somente Ele, pode solucionar o grande problema, lançando grande e poderosa luz de misericórdia sobre todos os homens, uma luz que revela quão pouco valem os bens terrenos em comparação com o tesouro da sabedoria evangélica e do amor fraterno. Cristo resolverá, com a sua Providência, por meio de sua doutrina e com o apostolado de fé, de paz e de caridade. Se há algum estado de coisas que assuste e horrorize mais do que o domínio de um tirano, é o de um amanhã em que as massas populares avancem, descrentes de Deus. Como se pode pensar no dia em que a humanidade não vivesse mais de Deus? Sem pai e sem mãe se pode viver, mas sem a luz de Deus nunca, disse Tolstoi; sem essa luz, os povos se afundam na barbárie e na anarquia. A palavra de Paulo pareceu loucura aos Gregos e soou como escândalo aos Judeus, mas era a palavra de Deus, palavra de mansidão, de castidade, de caridade. Era uma doutrina superior: a fé em um Deus Pai de todos os homens, onipotente, criador do céu e da terra, das coisas visíveis e invisíveis. Era a fé nova e superior em Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, que assumiu a carne no seio de Maria Virgem, morreu na Cruz por nós e no terceiro dia ressuscitou. Era a palavra de Paulo, o Evangelho de Cristo e da Igreja santa de Deus, Igreja única e universal que prega a ressurreição da carne, a remissão dos pecados, a comunhão dos Santos, a vida eterna. Scritti 79, 353 ss (p. 102 - 103).
VIVA SÃO PEDRO E SÃO PAULO, VIVA O PAPA!
Um comentário:
A força divide os homens: a caridade os une.
A ganância nunca permite que um rico seja realmente caridoso. Acho que é medo que caridade seja contagiosa. E é...
Essa semana uma senhora de vestes humilde contava moedas para pagar a lata de leite que seria doada aos desabrigados do nordeste. Acho que ela ficou sem a carne naquele dia.
Fiquei observando como aquele carrinho à porta do supermercado (com um cartaz pedindo doações para as vitimas nordestinas das enchentes), é invisível para muitos que estacionam carros importados e lotam mais de um carrinho com produtos muitas vezes supérfluos.
Eita São Luis Orione sábio!
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