terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Retorno
Somente depois de ter andado por terras estranhas
É que pude reconhecer a beleza de minha morada.
A ausência mensura o tamanho do local perdido
Evidencia o que antes estava oculto,
por força do costume.
Olhei minha mãe como se fosse a primeira vez.
Olhei como seu eu voltasse a ser criança pequena
A descobrir-lhe as feições tão maternas.
Abri o portão principal como quem abria
Um cofre que resguardava valores incomensuráveis.
As vozes de todos os dias estavam reinauguradas.
Deitei-me no colo de minha mãe como se quisesse
Realizar a proeza de ser gerado de novo.
Suas mãos sobre os meus cabelos
pareciam devolver-me
A mim mesmo.
Mãos com poder de sutura existencial...
Era como se o gesto possuísse voz,
capaz de me dizer:
Dorme meu filho, porque enquanto você dormir
Eu lhe farei de novo.
Dorme meu filho, dorme...
(Fábio de Melo em "Quem me roubou de mim?", p.32)

Nenhum comentário: