quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O Espírito de Dom Orione


4. O amor para com Deus

c) Amemos a quem tanto nos ama

Quantos nobres, quantos príncipes deixaram seus pais, suas riquezas, a pátria e até reinos para se recolher num claustro! Quantos mártires sacrificaram por Deus sua própria vida! Quantas Virgens e jovens da nobreza renunciaram às propostas de núpcias de homens poderosos e grandes e preferiram a morte!

Santo Inácio de Antioquia estava tão ávido para ir ao encontro do martírio que, tendo sabido que alguns amigos cristãos estavam se empenhando por salvar-lhe a vida, suplicava que não lhe fizessem essa grande crueldade. Escreveu-lhes: "Dirijo-me a todas as igrejas, e a todos anuncio que morrerei por Deus com muita alegria, se não me impedirdes. Eu vos esconjuro, não demonstreis para comigo uma benevolência inoportuna. Deixai que eu me torne pasto das feras, por meio delas me será dada a graça de chegar a Deus. Sou o trigo de Deus, e serei moído pelos dentes das feras para me tornar pão puro para Cristo. Suplicai a Cristo por mim, para que por obra dessas feras eu me torne hóstia para o Senhor. De nada me podem valer os gozos do mundo e os remos da terra. Para mim é melhor morrer por Jesus Cristo do que conquistar o império da terra inteira. Busco Aquele que morreu por nós, quero aquele que por nós ressuscitou. Está perto o momento do meu nascimento. Tende compaixão de mim, ó irmãos. Não queirais impedir que eu viva, não queirais que eu morra. Não atireis para os braços do mundo e para as seduções da matéria alguém que suspira por ser de Deus. Deixai que eu alcance a pura luz; lá chegando, serei verdadeiramente homem. Deixai que eu imite a paixão do meu Deus. Se alguém tiver Deus dentro de si, compreenderá o que eu desejo e terá compaixão de mim percebendo a angústia que me oprime. O Príncipe deste mundo quer carregar-me consigo e sufocar a minha aspiração para Deus. Ninguém de vós colabore com ele; ficai pelo contrário a meu favor". (Carta aos Romanos).


Vejamos, pois, como concretamente também nós podemos e devemos demonstrar a Deus o nosso amor. E recordemos o que nos diz Santo Agostinho: "Ama et fac quod vis (Ama e faz o que quiseres”). Se nós amamos verdadeiramente a Deus, podemos estar certos de que haveremos de cumprir toda a lei. Toda a lei, todos os mandamentos, todos nossos deveres estão compreendidos nestes dois preceitos, o de amar a Deus e o de amar o próximo, ou, se quisermos, estão todos compreendidos nesta simplicíssima exigência: Ama. É este o código mais simples e menor do mundo! Por outra parte, amar a Deus é não só o nosso máximo dever, mas é nossa suprema necessidade e felicidade: nós fomos feitos para amar a Deus e não seremos felizes enquanto não o amarmos plenamente: "Senhor, fizestes-nos para vós e inquieto estará nosso coração enquanto não repousar em vós" (S. Agostinho).


O que poderá nos indicar se nosso amor a Deus é verdadeiro? Eis alguns sinais:
1. Horror pelo pecado: o pecado é a rebelião contra Deus, é o contrário do amor, é egoísmo, é deixar Deus, abandoná-lo para nos voltarmos às criaturas. É pôr as criaturas no lugar de Deus.
2. Observar os mandamentos. Disse Jesus: "Se me amardes, observareis os meus mandamentos" (Jo 14,15). E o apóstolo João, que referiu essa palavra de Jesus, acrescenta e explica: "Quem diz: «Eu conheço» e não observa os seus mandamentos é mentiroso e a verdade não está nele; mas quem observa a sua palavra, nele o amor de Deus é verdadeiro e perfeito" (1 Jo 2,4 - 5).
3. Conformar a nossa vida com a de Cristo. "Quem diz que vive em Cristo, deve comportar-se como ele se comportou" (ib). Já os antigos diziam que o amor ou encontra os amigos iguais, ou, aos poucos, os torna iguais. Se amamos o nosso Deus encarnado, devemos nos tornar semelhantes a ele.


Devemos ser-lhe fiéis, escutá-lo e segui-lo. Observar todas as virtudes que nele resplandecem e ser perseverantes na prática delas. Quem o ama - a Jesus – deve renegar a si mesmo, abraçar a sua cruz de cada dia e segui-lo. A cruz é a prova maior do amor...

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