segunda-feira, 28 de novembro de 2011

TODOS EM M I S S Ã O: A família orionita entre nova evangelização e missio ad gentes

          


 Ariccia, 21 novembre 2011


Estamos nesta importante reunião de Família Orionita dedicada ao Projeto Missionário para o sexênio. Participam os conselheiros gerais, os superiores provinciais, os representantes das missões e da animação missionária,  FDP,  PIMC e Leigos. É um momento importante e determinante da vida da nossa Pequena Obra.
  É um congresso que FDP e PIMC  organizamos e vivemos juntos, vendo na comunhão dos corações e na colaboração prática uma força para conseguir os objetivos que cada congregação se propõe.  O relacionamento entre as duas congregações religiosas é aberto à coparticipação, na medida do possível, também do ISO e do MLO, no campo missionário.
            Na vida das duas congregações este congresso tem um objetivo eminentemente prático: informar, discernir e dar indicações para atuar as decisões dos respectivos Capítulos Gerais.

            O intuito destas palavras introdutivas é dar um quadro de notícias, valores e prospectivas entre os quais colocar o estudo das linhas e propostas para o projeto missionário do próximo sexênio 2011-2017.
            Os Capítulos Gerais 10 e 11 tinham canonizado como nota característica do sexênio o "novo impulso" missionário. O Capítulo 12 chamou a atenção sobre a "consolidação" das novas realidades missionárias. O Capítulo 13 deu como palavra de ordem a "corresponsabilidade" nos novos empreendimentos da Congregação (CG12, 143-144)[1].

            Impulso, consolidação, corresponsabilidade: evidentemente são dinamismos diversos e convergentes do empenho missionário da Congregação. A corresponsabilidade é ainda mais indispensável  hoje, em um tempo de redução numérica de religiosos para evitar de reduzir ao mínimo, seja o impulso como a consolidação missionária.


O MANDATO DE JESUS

            O mandato missionário de Jesus foi escolhido como luz evangélica para iluminar o Congresso.
            "Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam reunidos, com as portas fechadas por medo dos judeus. Jesus entrou e pôs-se no meio deles e disse:  A paz esteja convosco. Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos, então, se alegraram por verem o Senhor. Jesus disse, de novo: "A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou também eu vos envio" (Jo 20, 19-21).
            Todos os evangelistas, quando narram o encontro de Jesus Ressuscitado com os apóstolos, concluem comunicando o mandato missionário[2]. No congresso missionário de 2005 foi tomado como slogam o mandato de Jesus como referido em Atos 1, 8 "Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e a Samaria e até os extremos confins da terra".
            Todo discurso eclesial sobre a missão parte do "mandato" de Jesus. Nele encontramos as motivações[3], os conteúdos e as modalidades da missão.
            "O impulso missionário faz parte da íntima natureza da vida cristã e "renova a Igreja, revitaliza a fé e a identidade cristã, dá novo entusiasmo e novas motivações. A fé se reforça doando-a!  A nova evangelização dos povos cristãos encontrará inspiração e força no empenho para a missão universal" (Redemptoris missio [RM] 3).


O MANDATO DA IGREJA

            A voz do Papa e dos Pastores da Igreja prolonga e atualiza o mandato do divino Mestre "Como o Pai me enviou também eu vos envio" e nos recorda que estamos em débito com o Evangelho em direção a todos: "Anunciai o Evangelho a todos os povos" (MT 16,15).

            Dito isto, se deve constatar que "dos anos do Concílio até hoje, o número daqueles que não conhecem o Evangelho e Jesus Cristo duplicou" (RM 3). Basta este dado para fazer emergir o apelo à missio ad gentes, tornado hoje urgente e necessário e tanto relançado pelo Papa e pelos Pastores da Igreja.
Situações e estatísticas são conhecidas. Mas não podemos parar no dado sociológico. "Os homens que esperam Cristo são ainda em grande número: os espaços humanos e culturais, que ainda não receberam o anúncio evangélico ou nos quais a Igreja é pouco presente, são tão amplos, que requerem a unidade de todas as suas forças. Devemos nutrir em nós a ânsia apostólica de transmitir aos outros a luz e a alegria da fé, e a este ideal devemos educar todo o povo de Deus" (RM 86).
            Tal empenho missionário foi  assumido de modo especial, há séculos, pelos Institutos de Vida Consagrada[4]. Se pode dizer que, no passado, o desenvolvimento missionário da Igreja em novas fronteiras aconteceu por obra quase exclusiva dos religiosos.

O MANDATO DE DOM ORIONE

            O mandato apostólico de Dom Orione, como muito bem nos recordou João Paulo II, "se apresenta a vós como a atuação do grito aflito do vosso Pai: "Almas! Almas!". Grito que prolonga o "sitio" (tenho sede) de Jesus na Cruz. Grito que será sempre repetido por cada um e por todos juntos. Não pode existir verdadeira evangelização sem fervor apostólico"[5].

            Também Dom Orione poderia dizer-nos, retomando as palavras de Jesus: "Como o Pai me enviou também eu vos envio".
            O mandato missionário recebido e participado aos seguidores foi por Dom Orione sintetizado no sonho-visão de "Nossa Senhora do manto azul".  Ele viu um grande manto azul que "se estendia de tal forma que não se distinguia mais as fronteiras", "que cobria tudo e todos até o distante horizonte", "meninos de muitas e diversas cores, cujo número ia se multiplicando extraordinariamente... Nossa Senhora olhou para mim indicando-me". Escrevendo ao bispo Dom Bandi acrescentou: "recordando que cerca não tinha e que eram de várias raças, entendi que são as missões". [6]  

            Dom Orione foi em missão ad gentes com a viagem à América Latina de 1921-1922 e 1934-1937 e sabemos com qual dinamismo e impulso apostólico.

            Dom Orione enviou em missão ad gentes, a partir da primeira expedição de dezembro de 1913 no Brasil,[7] muitos de seus Filhos da Divina Providência e das Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade.


            O empenho missionário de Dom Orione e da congregação se realizou sempre na oferta e salutar tensão entre "consolidação do existente" e "novas aberturas". Tal tensão foi incorporada paradigmaticamente nos dois santos irmãos e pais da Congregação: Dom Orione e Dom Sterpi. Com acentos até mesmo dramáticos nas palavras de um e do outro.
            Dom Sterpi escreve de Tortona: "Procure retornar o quanto antes.  Recorde que se as coisas aqui não vão bem, será um mal também para a América... E depois deixe a Argentina e todos os seus belos projetos, do contrário irei também eu”[8].
            Dom Orione escreve do Chaco  informando que aceitou uma nova missão:  “Aceitei sob condição porque sentia a minha alma dilacerada, e recordava as palavras do Papa: «não parai-vos nas cidades, mas ide no interior, onde poucos ou ninguém vai, porque não dá lucro». Aqui o Chaco é tido como pior que a Patagônia, tudo, tudo, tudo para se fazer, tudo para sofrer, tudo para sacrificar-se para o Senhor, para as almas, para a Santa Igreja. Têm os protestantes, os hebreus, os mercados que enriquecem de bens terrenos e que por causa do algodão e da riqueza estão lá, e não estará o sacerdote para as almas, para os pobres?”.[9]

            Também hoje, a tensão entre o impulso e consolidação não deve ser resolvida mas mantida viva e alta e isto é possível só no equilíbrio que se consegue mediante a comunhão fraterna e a partilha do zelo apostólico. Essa, nos tempos de Dom Orione e sucessivamente  produziu a difusão do Evangelho e do carisma, novas aberturas, novas vocações. São os dois passos de quem caminha na história: um que se apóia no terreno sólido mas já pronto para partir e o outro lançado à frente mas já calculando o ponto de apoio. Os religiosos e as obras serão sempre muito frágeis para poder falar de consolidação. Mas serão também sempre suficientes para dar razão à esperança missionária.


O MANDATO DA CONGREGAÇÃO

            As Congregações orionitas foram enviadas em missão pelo Fundador e mandaram em missão muitos dos seus religiosos e religiosas.
            A América Latina foi a direção missionária mais desenvolvida por Dom Orione (Brasil, Argentina, Uruguay e Chile), mas ele lançou os Filhos da Divina Providência em uma irradiação geográfica missionária surpreendente se se pensa no limitado número (e não só) dos religiosos:  Palestina (1921), Polônia (1923),  Rodi (1925), Estados Unidos (1934), Inglaterra (1935), Albânia (1936).  As Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade, mesmo fundadas 25 anos depois, foram enviadas pelo próprio Dom Orione na Argentina, Brasil, Uruguay e Polônia.


Depois do grande impulso fundacional e missionário de Dom Orione, em  1940 coube a Dom Carlos Sterpi (1940-1946) o dever de consolidação da Congregação. Mas a Providência quis que fosse diferente: a segunda guerra mundial por 6 anos (1939-1945) tirou religiosos, dispersou jovens nos cenários de guerra, tornou difícil a vida dos seminários e impediu a comunicação entre a Itália e os outros Países de presença orionita. Bem outro que consolidação!

            Depois  Dom Sterpi adoeceu e deixou o comando a Dom Carlos Pensa (1946-1962). A forma organizativa e institucional da congregação ganhou consistência e estabilidade com o governo de Dom Pensa. Dom Pensa podemos dizer foi o primeiro Geral da verdadeira consolidação.  Mas nem mesmo com ele diminuiu o impulso missionário: na verdade, Dom Pensa aceitou de Pio XII a empenhativa missão do Goiás (1952), enviou para a América Latina várias expedições missionárias nos anos 50 e abriu as primeiras comunidades no Chile, Espanha, França e Austrália.

            Substancialmente prevaleceu a visão de consolidação e do desenvolvimento interno também durante os dois sexênios de Dom Giuseppe Zambarbieri (1963-1975); único País novo que assumimos foi a Costa do Marfim (1970).
            Nos últimos decênios, respondendo aos apelos do Papa em favor da  missio ad gentes, existiu  um grande empenho missionário da Congregação com muitas novas aberturas em alguns Países.
            É com  Dom Ignazio Terzi (1975-1987) que se pode falar de uma verdadeira e consistente retomada do impulso missionário ad gentes da congregação expressa com aberturas a novos povos: Paraguay (1976), Madagascar (1977), Togo (1981), Jordânia (1985), Venezuela (1986). Foi continuada com Dom Giuseppe Masiero (1987-1991): Cabo Verde (1988), Filipinas (1991),  Romênia (1991) e com Dom Roberto Simionato (1992-2004): Albânia (1992) Bielorussia (1993),  México (1993), Kenya (1996), Burkina Faso (1999), Índia (2001), Ucraína (2001), Moçambique (2003).
            O último sexênio 2004-2010 pode ser considerado de consolidação das muitas novas e isoladas missões e, isto, em um contexto de Congregação em notável diminuição numérica.

            A constatação histórica de conjunto é que consolidação e impulso missionário caminharam sempre de mãos dadas na congregação, desde os tempos de Dom Orione.
            Também o desenvolvimento missionário das Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade, realizado por Dom Orione com aberturas a rítmo forte e também bem consolidadas, perdurou mais ou menos até 1949, alguns anos depois da morte de Dom Orione, com o desenvolvimento em mais seis nações: Itália, Polônia, Argentina, Brasil, Uruguay e Chile.
            Depois foram 30 anos sem desenvolvimento missionário em novas nações. Retomado só em 1978 com as aberturas na África, em Cabo Verde,   Kenya e Madagascar.
            Depois da queda do Muro de Berlim (1989) e  os convites da Santa Sé, as PIMC chegaram à Rússia, à Albânia (por um breve período), à Ucraína e à Romênia com presenças até o momento muito reduzidas. As últimas aberturas aconteceram no Perú, em Costa do Marfim e nas Filipinas.


PROSPECTIVAS PARA O PROJETO MISSIONÁRIO
           
1.      Todos missionários: missio ad gentes e nova evangelização
            O nosso congresso missionário é dedicado sobretudo a formular o projeto de missão ad gentes, mas é indispensável recordar que somos todos missionários e tem uma corresponsabilidade que envolve todos os sujeitos da Família Orionita, seja como componentes (FDP, PIMC, ISO, Leigos) e seja como modalidade de ação missionária.
* missio ad gentes: dirigida a povos, entre os quais Cristo e o Seu Evangelho não são conhecidos;
* cura pastoral da Igreja: junto às comunidades cristãs já formadas e efervescentes de fé e de vida;
* nova evangelização: abraça a situação intermediária, de grupos inteiros e povos que, embora batizados, perderam o sentido vivo da fé".

            Somos chamados a elaborar o nosso projeto missionário inseridos em uma Igreja na qual o Papa Bento XVI está dando uma forte marca missionária, como se pode verificar das duas iniciativas mais relevantes: instituiu um Conselho Pontifício para a Promoção da nova Evangelização[10] e convocou o próximo  Sínodo dos Bispos (7-28 de outubro de 2012) sobre o tema “A nova evangelização para a transmissão da fé cristã”.
            No prefácio de Lineamenta para o Sínodo se distingue entre “a evangelização como horizonte ordinário da atividade da Igreja", "a ação de anúncio do evangelho ad gentes nos Países missionários de primeira evangelização" e  “a nova evangelização endereçada aqueles que estão afastados da Igreja nos Países de antiga cristandade". Estas três linhas de ação frequentemente convivem no mesmo território, razão pela qual, nas Igrejas particulares, devem ser praticadas contemporaneamente, sobretudo por causa do fenômeno da globalização e da mudança da população através da migração e da imigração. Já João Paulo II recordava que  «os confins entre o cuidado pastoral dos fiéis, nova evangelização e atividade missionária específica não são nitidamente definidas, e não se pode criar entre elas barreiras ou compartimentos-estagnados” (Lineamenta 10).
            Concretamente, o título do nosso congresso  “Todos em missão” significa que nós Orionitas não podemos pensar o nosso projeto missionário ad gentes separadamente, mas incluso no contexto global e diferenciado da promoção da evangelização. “Nova evangelização é sinônimo de missão”, afirma claramente Bento XVI.

2.      A santidade como condição e energia da missão
            “Nova evangelização e urgência de espiritualidade ” é o título do n.8 de Lineamenta do Sínodo dos Bispos sobre a nova Evangelização.
            A missão "radica-se e concretiza-se, antes de mais, no estar pessoalmente unidos a Cristo: só se estivermos unidos a Ele, como o ramo à videira (cf. Jo 15, 5), é que poderemos dar bons frutos. A santidade de vida possibilita a cada cristão ser fecundo na missão da Igreja" (RM 77, Ad Gentes 36).

            A nós religiosos é recordado que "a contribuição específica dos consagrados e consagradas para a evangelização consiste, primariamente, no testemunho de uma vida totalmente entregue a Deus e aos irmãos, à imitação do Salvador que Se fez servo" (VC 76).
            "A santidade deve-se considerar um pressuposto fundamental e uma condição totalmente insubstituível para se realizar a missão de salvação da Igreja. Não basta explorar com maior perspicácia as bases teológicas e bíblicas da fé, nem renovar os métodos pastorais, nem ainda organizar e coordenar melhor as forças eclesiais: é preciso suscitar um novo 'ardor de santidade' entre os missionários e em toda a comunidade cristã (RM 90).
            São palavras claras que tocam o coração da missionariedade e que nos advertem de não confundi-la com protagonismo humano e ativismo[11]. O nosso projeto missionário deve propor-se também de "suscitar um novo 'ardor de santidade' entre os missionários e em toda a comunidade cristã".  

            Bento XVI falando sobre a nova evangelização recordou a necessidade de "pessoas que tenham elas mesmas, antes de tudo, o olhar fixo em Jesus, o Filho de Deus: a palavra do anúncio deve estar sempre imersa numa relação profunda com Ele, numa vida intensa de oração. O mundo de hoje precisa de pessoas que falem com Deus, para poder falar de Deus. E devemos também recordar sempre que Jesus não remiu o mundo com bonitas palavras ou meios vistosos, mas com o sofrimento e com a sua morte. A lei do grão de trigo que morre na terra é válida também hoje; não podemos dar vida a outros, sem dar a nossa vida".[12]
            Bento XVI não perde ocasião para afirmar a origem mística (a Graça - a Caridade - a ação providente de Deus) de todo empenho e ação pastoral da Igreja pela qual não hesita em advertir que "A falta de zelo missionário é falta de zelo pela fé. Ao contrário, a fé se fortalece na medida em que é transmitida".[13]  
            João Paulo II exortou a nós Orionitas a "Fazer de Cristo o centro das vossas vidas, o coração do apostolado: este é o empenho missionário que vos anima; este é o programa apostólico que guiou Dom Orione e que conserva ainda hoje a sua plena atualidade".[14] Bela e sintética também uma outra expressão: "Dom Orione quis fazer de Cristo o coração do mundo depois de tê-lo feito dele coraçao do seu coraçao".[15]

3.      A vida fraterna em comunidade como conteúdo e método da missão
            João Paulo II, em Vita consecrata 45 afirma explicitamente que "para apresentar à humanidade de hoje o seu verdadeiro rosto, a Igreja tem urgente necessidade de tais comunidades fraternas, cuja própria existência já constitui uma contribuição para a nova evangelização, porque mostram de modo concreto os frutos do « mandamento novo ».
            É a característica que deve inspirar o nosso empenho missionário de religiosos. Sobre a vida comunitária também o nosso último Capítulo geral tem insistido muito. [16]    
            É  na Vida fraterna em comunidade [VFC] que o tema é tratado com muita aderência a situações e valores da missão dos religiosos.
            "Junto com a missão de anunciar o Evangelho a todas as criaturas (Cf. Mt 28, 19-20), o Senhor enviou seus discípulos a viver unidos, «para que o mundo creia» que Jesus é o enviado do Pai ao quaI se deve dar o pleno assentimento de fé (Cf. Jo 17, 21). O sinal da fraternidade é, portanto, de grandíssima importância, porque é o sinal que mostra a origem divina da mensagem cristã e que tem a força de abrir os corações à fé. Por isso «toda a fecundidade da vida religiosa depende da qualidade da vida fraterna em comum».
            "Quanto mais intenso é o amor fraterno, maior é a credibilidade da mensagem anunciada, mais perceptível é o coração do mistério da Igreja", lemos em VFC 55. "A vida fraterna é tão importante quanto a ação apostólica. Não se pode, pois, invocar as necessidades do serviço apostólico para admitir ou justificar uma vida comunitária medíocre".
            São pensamentos claros e incisivos.

            Na missão da Igreja, aos religiosos é pedido alguma coisa de específico: "A vida fraterna em comum tem um valor especial nos territórios de missão ad gentes, porque demonstra ao mundo, sobretudo não cristão, a «novidade» do cristianismo, ou seja, a caridade que é capaz de superar as divisões criadas por raça, cor, tribo... Mas não raramente é justamente nos territórios de missão onde se encontram notáveis dificuldades práticas para construir comunidades religiosas estáveis e consistentes" (VFC 66).
            Elecando outros motivos que podem criar obstaculo a vida comunitaria, conclui: O importante é que os membros dos institutos estejam conscientes do caráter extraordinário dessas situações... e, apenas possível, constituam comunidades religiosas fraternas de forte significado missionário, para que se possa elevar o sinal missionário por excelência: «sejam um, para que o mundo creia» (Jo 17, 21).

4.      A co-responsabildade ad gentes anima a missionariedade congregacional
            O impulso missionário desenvolve e enriquece a catolicidade da Igreja e da Congregação. "A participação na missão universal, portanto, não se reduz a algumas atividades isoladas, mas é o sinal da maturidade da fé e de uma vida cristã que dá fruto. Deste modo o crente alarga os horizontes da sua caridade, ao manifestar solicitude por aqueles que estão longe e pelos que estão perto: reza pelas missões e pelas vocações missionárias, ajuda os missionários, acompanha-lhes a atividade com interesse e, quando regressam, acolhe-os com aquela alegria, com que as primitivas comunidades cristãs ouviam, dos Apóstolos, as maravilhas que Deus operara pela sua pregação (cf. At 14, 27)". (RM 77c).
                        Sem a paixão missionária - da qual os missionários ad gentes são o sinal mais claro - é fácil cair na introversão apostólica, verdadeira asfixia da comunidade cristã e religiosa. Afirma-o com a habitual imediatez Bento XVI:
"A nova evangelização é o contrário da auto-suficiência e do dobrar-se sobre si mesmo, da mentalidade do status quo e di uma concepção pastoral que considera suficiente continuar a fazer como sempre se fez. Urge que a Igreja chama as próprias comunidades cristãs a uma conversão pastoral no sentido missionário da sua ação e de suas estruturas"[17].
            Esta indicação foi atualizada para nós Orionitas por João Paulo II: "A vossa Familia religiosa encontrará, estou seguro, se souber abrir-se a uma autêntica consciência missionária, razões ideais e estímulos concretos para um constante crescimento e uma viva renovação evangélica. Fiéis, em tal modo, à herança espiritual deixada por Dom Orione, vós sereis neste tempo os continuadores do seu serviço à causa de Cristo e da mensagem salvífica".[18]

            Certamente, missão específica deste Congresso missionário é estimular e dar orientações práticas para atuar ao máximo a co-responsabilidade missionária de todos, nos diversos modos. Isto é ainda mais necessário porque a Congregação está passando por uma fase de diminuição numérica de religiosos e de vocações.
            Para animar a co-responsabilidade será necessário dar novo dinamismo aos Secretariados missionários que estão quase desaparecendo nas Províncias.  
Trata-se também de estimular e favorecer, como governo provincial, a disponibilidade de confrades para as missões, de cuidar bem o relacionamento da Província com as missões que lhe são confiadas: envio/transferência de religiosos na missão, relacionamento dos religiosos em missão com a Província e as suas estruturas de animação (secretariados, formação permanente etc.), sustento  econômico e outros aspectos.
            Enfim, na própria Província, existem tantas possibilidades de envolvimento missionário que podem ser valorizadas: associações, grupos, missões populares, a oração dos confrades anciãos, enfermos, nos Pequenos Cotolengos.

5.      Co-responsabilidade e envolvimento dos leigos
                        O ponto de partida da co-responsabilidade dos leigos na missão provém do fato que "os fiéis leigos, por força da sua participação no múnus profético de Cristo, estão plenamente envolvidos nessa tarefa da Igreja" (Christifideles laici, 34) e, de fato, "o empenho evangelizador dos leigos está mudando a vida eclesial" (RM 2) e isso representa um grande sinal de esperança para a Igreja.
"Os setores de presença e de ação missionária dos leigos são muito amplos" (RM 72) em toda a Igreja e também na missão orionita, na qual as obras caritativas e sociais para os pobres não só acompanham a ação missionária, mas são em si mesmas missionárias, uma vez que "a nossa pregação é a caridade" e "as obras de caridade são a melhor apologia da fé católica". Em uma missão orionita existe muito lugar para os leigos: para os catequistas e para pedreiros; para quem é professor, para quem é cozinheiro, para quem é enfermeiro; para quem sabe dirigir um grupo e para  quem sabe dirigir um automóvel; para quem - homem ou mulher - sabe cuidar da casa, sabe acolher e oferecer uma ajuda nas pequenas necessidades cotidianas da missão. 
Com este espírito foi lançado um especial apelo missionário aos leigos[19]. Muitos leigos já são protagonistas também na missão ad gentes: leigos do próprio local, antes de tudo, mas também leigos que vão em missão[20]. Devem ser formados e coordenados. São poucos, é apenas um inicio, por agora, mas existem grandes possibilidades. O XIIICG pede de "favorecer experiências missionárias de voluntariado laical" (n.118).[21]
            Devemos pedir e valorizar aquilo que é específico deles no sentido indicado por João Paulo II na carta ao Movimento Laical Orionita: "Convido os leigos que escolheram de compartilhar o carisma orionino vivendo no mundo a ser zelantes e generosos para oferecer à Pequena Obra da Divina Providência 'a preciosa contribuição' da sua secularidade e do seu específico serviço. O Movimento Laical Orionita favorecerá assim a irradiação espiritual da vossa Família religiosa... para uma sempre mais eficaz atuação da sua específica missão na Igreja e no mundo". [22]

6.      O caminho das novas missões entre consolidação e   restringimento  
A decisão n.7 do Capítulo geral de 2004, e o sucessivo Projeto missionário frizaram a necessidade da consolidação das missões: “consolidando antes de tudo as novas realidades missionárias, constituindo comunidades consistentes, com uma maior estabilidade de religiosos idôneos, inclusive o formador das vocações  locais”.  
A consolidação no desenvolvimento missionário no sexênio passado foi  exigente para as pessoas, e custou muito sacrifício e empenho por parte da Congregação. E estamos bem longe de conseguir realizar este objetivo.
  É necessário ainda muito esforço, provavelmente menos atraente, mas indispensável para chegar a missões consolidadas ou fundadas que, segundo a descrição do “projeto missionário orionita” de 1993,[23] se tem quando uma missão comprende ao menos três comunidades que unem as atividades da evangelização, as obras caritativas assistenciais e a promoção das vocações do lugar. É este o núcleo germinativo da “planta orionita” suficiente para desenvolver e crescer. Pois, o florescer, o frutificar e a força da planta dependem da Divina Providência, das condições concretas históricas e sociais do ambiente e do empenho dos confrades[24].

Pois bem, são ainda muitos os Países em que a presença da Congregação não è ainda consolidada e as missões que não se podem ainda dizer “fundadas completamente pelo número de religiosos, de comunidade e de atividade-obras. O projeto missionário que elaboraremos juntos deverá ainda levar em conta este empenho para consolidar as nossas novas missões.
A experiência mostra como o número reduzido de religiosos, sempre os mesmos, por tanto tempo no mesmo lugar e nas mesmas obras, com poucas possibilidades de animação inter-comunitária, sem vocações do lugar, leva a uma involução negativa seja dos religiosos que das obras, com sempre menos possibilidade de vocações. Uma saída por estes motivos aconteceu até agora somente no Cabo Verde.
Em uma nova nação nós vamos para doar o carisma e para implantar a congregação e não somente para realizar atividades. Se a nossa presença depois de muito tempo não se desenvolve rumo a uma autonomia vital, é necessário deixar. O bem uma vez realizado é sempre um bem e o deixar aquele país não é sempre uma perda.

7.      Um horizonte para se ter a frente dos olhos: Ásia
            A Congregacão, com o Congresso Missionário para a Ásia de 7-11 de maio de 2001, promoveu o Projeto para a Ásia. Desde aquele momento a novidade
mais notável é constituída do esperado desenvolvimento da Índia. Nas Filipinas foi aberta em Lucena e tem um bom número de jovens no pre-noviciado. Na Coréia como estava no programa, foi feita uma tentativa de abertura, mas surgiram dificuldades para continuar.[25]
Mas o horizonte da Ásia deve continuar aberto para a família orionita.
A Ásia não é uma Nação, não é uma cultura, não é uma fronteira. A Ásia é a metade da populacão da terra. Era também antes, mas agora com as novas aberturas comerciais e as comunicações está se tornando de fato. A Ásia é o futuro. A Ásia pouco conhece Cristo e a sua salvacão.
Em 1995, João Paulo II convidou os Bispos confiando no mistério da comunhão com os inúmeros e muitas vezes desconhecidos mártires da fé na Ásia e confirmados na esperança pela constante presença do Espírito Santo, os Padres sinodais chamaram corajosamente os discípulos de Cristo na Ásia para um novo empenho na missão” (Ecclesia in Asia 4).
Um pouco enfaticamente, mas na verdade, no Projeto para a Ásia lemos: “É a hora da Ásia! Tomemos o trem da história”. Como o mundo emergente no tempo de Dom Orione foi a América Latina e Dom Orione estabeleceu uma relacão privilegiada com aqueles povos, assim hoje o mundo emergente é a Ásia.
Não é uma questão de se ter apenas uma presença a mais na Ásia, se trata de fazer com que a Congregação seja implantantada e se desenvolva também na Ásia .
A Providência nos está estendendo a mão. Como representante dos superiores gerais na Congregação para a Evangelização dos Povos (Propaganda Fide) escutei um tema frequente: preparemo-nos para a China, aproximemo-nos da China. Muitas Congregacões, também da nossa dimensão, estão fazendo os primeiros contatos, contando inclusive com iniciativas de leigos.
Daqui há pouco, a China será aberta como se abriu a Europa do Leste depois da queda do Muro de Berlim. Estaremos preparados para ir e levar o Evangelho e o carisma orionita? Era um sonho de Dom Orione.[26]

CONCLUSÃO
A conclusão deste quadro atual e projetual da dimensãao missionária das nossas Congregacões, vamos novamente ao sonho profético de Dom Orione quando, “in spe e contra spem”, tinha fechado o oratório colocando as chaves nas mãos de Nossa Senhora. Viu o grande manto azul, gente de todas as raças e cores “recordando que não tinha cerca, e que eram de várias cores, entendi que são as missões”.[27]
A nossa Congregação desde os tempos de Dom Orione, não colocou “cerca” e ainda hoje é chamada a cuidar de todos os que estão sob o manto e a manter aberto o seu horizonte.
 Maria, mãe da Divina Providência proteja a nossa Família Orionita “que é obra sua desde o início” e abençoa este congresso missionário.
 Deo gratias!



[1] O CG 13 pede para favorecer a "corresponsabilidade" não só mediante o projeto missionário ag gentes mas também mediante "projetos regionais para a Ásia, para a América Latina, para a Europa e para a África" (n.143).

[2] Mt 28,16-20, cf.  Mc 16, 15-18, Lc 24, 46-49, Jo 20, 21-23.
[3] O importante documento Redemptoris missio aprofunda as motivações teológicas, espirituais e pastorais do empenho missionário e responde a algumas dúvidas que possam atenuar a função missionária da Igreja. "Por causa das mudanças modernas e do difundir-se de novas idéias teológicas alguns se perguntam: É ainda atual a missão entre os não cristãos?  Não terá sido substituída pelo diálogo inter-religioso? Não é um seu objetivo suficiente a promoção humana?  O respeito da consciência e da liberdade não exclui  toda proposta de conversão? Não nos podemos salvar em qualquer religião? Por que portanto a missão?(RM 4).

[4] "Os Institutos de vida Consagrada, uma vez que se dedicam ao serviço da Igreja,  por força de sua própria consagração são obligados a prestar seu serviço em modo especial não ação missionária, com o estilo próprio do Instituto" (RM 69, AdG 40).
[5] Audiencia ao X Capitulo Geral da Pequena Obra da Divina Providencia, 16 de maggio de 1992.
6 Scritti 45, 60.
[6] Dal 20 ottobre 2013 all’8 dicembre 2014 celebreremo l’Anno missionario orionino nel ricordo del centenario della partenza dei primi missionari.
[7] De 20 de outubro de 2013 a 8 de dezembro de 2014 celebraremos o ano missionário orionita recordando o centenário da partida dos primeiros missionários.
[8]Carta de Dom Sterpi de 21 de novembro de 1921, ; IV, 218.
[9] Carta do Abade Caronti de 17 de março de 1937; Sui passi di Don Orione, 216.
[10] Foi erigido no dia  21 de setembro de 2010 com o Motu proprio Ubiqumque et semper. Neste disse que a tarefa do Conselho é  “fazer conhecer e sustentar iniciativas ligadas à nova evangelização já em ato nas diversas Igrejas particulares e promover a realiazação de novas, envolvendo ativamente também os recursos presentes nos Institutos de Vida Consagrada e nas Sociedades de Vida Apostólica, como também nas agregações de fiéis  e nas novas comunidades”.

[11] Existe o risco de "dar uma imagem redutora da atividade missionária, como se esta fosse principalmente auxílio aos pobres, contributo para a libertação dos oprimidos, promoção do desenvolvimento, defesa dos direitos humanos... os pobres têm fome de Deus, e não apenas de pão e de liberdade, devendo a atividade missionária testemunhar e anunciar, antes de mais, a salvação em Cristo, fundando as Igrejas locais, que serão depois instrumento de libertação integral" RM 83
[12] Discorso del 15 ottobre 2011 ai partecipanti al Convegno per la nuova evangelizzazione.
[13] Ibidem.
[14] Omelia nella Parrocchia di Ognissanti, Roma, 3.3.1991.
[15] Lettera nel 50° della morte di Don Orione, 12.3.1990.
[16] Alle relazioni comunitarie è dedicato il nucleo 3 del documento del CG 13.
[17] Discorso del 15 ottobre 2011 ai partecipanti al Convegno per la nuova evangelizzazione. Anche nel CG13 è stato rilevato che “emergono nella nostra vita di religiosi, alcune situazioni caratterizzate da poca capacità a convertire le nostre opere istituzionali, da una certa chiusura verso esperienze nuove e da una marcata assenza di pionierismo missionario” (n.114).
[18] Lettera nel 50° della morte di Don Orione.
[19] Il primo Appello missionario ai laici orionini è datato 15 ottobre 2005; ed è stato rinnovato il 13 marzo 2011: “Venite a predicare la carità”.
[20] IL CG13 rileva che “anche da noi sono già state attuate esperienze missionarie da parte di laici” (n.114)
[21] La decisione 30 del CG 13 stabilisce che “Il consigliere generale per le missioni, in collaborazione con i rispettivi consiglieri provinciali, prepara un piano concreto per quei laici che vogliono fare una esperienza nelle nostre missioni, attua un serio discernimento e individua le comunità più adatte per l’accoglienza” (n.121).
[22] Messaggio in occasione del Convegno Internazionale del Movimento Laicale Orionino, 1210.1997.
[23] Recordamos que o Projeto missionario de 1993, além do “programa” missionario, determinou um quadro de valores, uma identidade, uma dinamica da missio ad gentes orionita.
[24] Sem ter feito uma teoria, Dom Orione atuou este principio vital de desenvolvimento na Argentina, no Brasil, no Uruguay e na Polonia. Procurou superar a situaçao dos religiosos e das comunidades que nao queria que fossem isoladas por muito tempo, como em Albania, Palestina, Estados Unidos, Rodi. Para oUruguaydeu diretivas ao superior Dom Montagna para o desenvolvimento da missao: “ Nao tenhais temor pelo pessoal, porque pretendo intensificar e consolidar o nosso estabelecimento no Uruguay; tanto que estou decidido de aceitar também em Minas”; mas è interessante o critério colocado por Dom Orione: “Tres ou  quatro Casas sao uma necessidade de vida, do bem  organizado melhor, de ajuda também reciproca  material e moral:  «frater qui adiuvatur a fratre quasi civitas firma», diz a Sagrada Escritura”; a Don Montagna, 26.12.1929, Scritti 21, 152. Da mesma forma, favoreceu uma passivel nova abertura a Rodi:  “A este respeito,faz parte dos costumes desta Congregaçao de abrir, em paises distantes, possivelmente duas casa, porque se alguem nao se adapta em uma casa podera ser facilmente transferido para a outra …”; Scritti 89, 201.
[25] Veja o anexo “Cronistoria dell’incontro con la Corea nell’Instrumentum laboris”.
[26] Estava em contacto com Propaganda Fide e diante das dificulades praticas para abrir na Albania, escreve a Dom Sterpi ( 2 de outubro de 1935, de Buenos Aires): “melhor agora, diversamente, pedeuma missa ona China” (18, 156). Pede! Na verdade chegou uma proposta concreta desde 1927: “Vossa Excelencia Dom  Celso Costantini, Delegado apostolico na China queria confiar-nos um Seminario” (42, 87), mas teve que renunciar por falta de pessoal. Sabendo desa possibilidade de missoes na Asia, informa que “O Instituto do Divino Salvador pro Missoes no Exterior que esta aqui em Roma na rua Sette Sale, 22, onde aumenta para Deus e para a Igreja um grande numero de nossos clerigos e de aspirantes… Sobretudo se  preparampara a China e para o Oriente” (59, 59). Anunciando a primeira partida dos primeiros missionarios de Voghera diz: “E temos convites para duas novas casas na China, uma de um Bispo e outra do proprio Dom  Celso Costantini Delegado Apostolico para a China” (73, 156). Falando ainda das missoes: “A China era inacessivel – agora o muro do imperio celeste caiu: o Japao estava fechado para os estrangeiros: agora nao mais. Os povos se aproximaram: a humanidade nao so caminha,  mas corre, mas viaja, voa” (56, 167)
[27] Scritti 45, 60.

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