FINADOS - TUDO EMPRESTADO
Há no livro “O homem dos impossíveis” de Pe. Renato Scano uma passagem que nos apresenta Dom Orione numa festa com roupas vistosas: chapéu preto novo, batina impecável, sapatos com fivelas de prata. E as pessoas comentavam onde estava a pobreza daquele homem fundador de congregação religiosa dedicada a acudir a humanidade sofredora e abandonada e agora se portando na “maior estica”. Quando questionado, ele respondeu: “estas roupas não são minhas. Tomei-as emprestadas de pessoas diferentes. Se tivesse vindo aqui com os meus sapatos, com minha batina e ainda com meu chapéu, com certeza eu seria expulso do banquete como aquele servo do Evangelho que não tinha a veste nupcial.”
A roupa que nosso santo usava na festa era emprestada, o que nos conduz à uma reflexão oportuna acerca do dia de finados que se aproxima. Vêm-me à mente os comentários que se fazem nesse dia e nos momentos de morte: “a vida não é nossa, pertence a Deus”, “chegou a hora”, “estamos neste mundo de passagem” ou ainda “estamos neste mundo emprestados”. Como a roupa que Dom Orione usava não lhe pertencia, também nós não pertencemos a este mundo. Estamos aqui de fato emprestados, vivendo uma experiência única até que retornemos para junto do Pai a quem de fato pertencemos.
Para ilustrar a tese de que estamos viajando por este mundo, narro o caso do rapaz que chegou à uma cabana no meio do mato onde morava um eremita com fama de santidade que ofereceu-lhe pouso. Ele ficou admirado com a simplicidade da moradia daquele homem de Deus e lhe perguntou:
- o senhor só tem essas coisas?
- Só isso e é tudo de que eu preciso. E olhando para a mochila do rapaz, fez–lhe pergunta parecida:
- E você só tem essas coisas que estão na sua mochila?
- Aqui comigo só isso, visto que estou aqui só de passagem.
E o santo concluiu:
- E eu neste mundo, também estou de passagem.
E para ilustrar também o nosso discurso do empréstimo, lembro-me de uma outra historieta. É sobre um casal cristão e devoto que tinha um único filho a quem muito amava. Aconteceu que enquanto o marido, um mascate, estava em viagem, o filho único amado que ficara em casa com sua mãe, faleceu. Voltando da viagem, o homem queria de imediato ver o filho que deixara ao viajar com plena saúde. A mulher procurou desviar a sua atenção, preparou-lhe o banho com sais aromáticos, preparou o seu jantar com as costeletas de porco que tanto ele apreciava. Serviu-lhe um vinho reservado para ocasiões especiais. E depois da sobremesa e do cafezinho, visto que ele insistia em ver o filho, disse-lhe:
- meu marido, tenho uma coisa muito grave a lhe contar.
- Fala mulher, o que pode ser de tão grave?
- Na sua ausência, começou ela a dizer, veio um vendedor de pedras preciosas e deixou comigo um colar de diamantes para que eu experimentasse por uns dias, para devolver-lhe depois disso. Acontece que gostei tanto do colar que não quero mais devolver.
- Ora mulher, o colar não é seu. Trata-se de um empréstimo. Devolva o colar de diamantes para o dono, disse-lhe o marido.
A mulher retrucou:
- o colar de diamantes é nosso filho, nossa jóia preciosa, que Deus há duas semanas veio buscar.
Visto que eram cristãos e devotos, se abraçaram, algumas lágrimas rolaram, enquanto ele dizia prá esposa:
- mulher, a tua fé é grande demais.
O dia de finados, dia de recordação e oração pelo descanso eterno de nossos entes queridos, dia de reflexão sobre a vida, nos faz concluir que de fato estamos neste mundo emprestados e de passagem.
Pe. Gilberto Ferreira da Silva
mestre de noviços
Um comentário:
No Blog "Orionitas em Guararapes", na foto, Quem é a pessoa que está do lado do Pe José Manoel dos Santos? Por acaso é o Ir. Leonildo?
Pe. Manoel, parabéns. Saúde e Paz.
Antônio Márcio.
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