OLHANDO PARA 2011
Iniciar bem a caminhada indicada pelo XIII Capítulo Geral
2011 é o ano seguinte ao Capítulo Geral. É o momento mais importante para pôr em movimento a marcha das linhas de ação e as decisões tomadas para o bem da Congregação. Para esse escopo foram previstas as Assembleias provinciais de programação.[1] É indispensável a participação interessada de todos.
Como já escrevi, nem todos devem fazer tudo, mas a cada qual (religiosos, comunidades, províncias, governo geral, secretariados etc.) cabe uma contribuição específica.
Cada um é chamado a fazer a sua própria parte, porque somente com a contribuição de todos, as linhas de ação e as decisões poderão ser concretizadas no seu conjunto.[2]
Trata-se de nosso bem maior. Ocorre uma contínua atenção de nossa vida pessoal, comunitária e congregacional, em resposta à vontade de Deus e às mudanças em que estamos envolvidos.
Dedicamos atenção e muito esforço de reflexão para preparar o Capítulo Geral. Agora, é necessário um empenho de filhos na atuação de quanto o Capítulo nos consignou com autoridade. Não nos contentemos em ler o documento do Capítulo, nem com algum comentário genérico sobre as propostas.
A realização das decisões do Capítulo, para que estas sejam eficazes, deverá ser orgânica e continuada durante todos os seis anos. Haveremos de fazê-lo, seguindo a dinâmica da caminhada indicada por nossas Constituições e consolidada pela tradição da Congregação.
Como Conselho geral elaboramos algumas linhas de programação para o sexênio e o mesmo farão as assembleias provinciais para que passemos do projeto à programação.
Em seguida incentivaremos as reuniões anuais dos Diretores a refletir, estimular e realizar as várias decisões nas comunidades e atividades locais.
Os subsídios anuais de formação permanente são preparados para ajudar a transformar os grandes temas do projeto do sexênio em motivações espirituais e em orientações concretas; já temos em nossas mãos o primeiro subsídio, dedicado “às fontes da salvação”.
A ação dos Secretariados ajudará muito a animar a aplicação das indicações do XIIICG referentes ao próprio setor.
Os encontros internacionais realizados por cada Secretariado serão momentos fundamentais para o confronto amplo sobre algumas mentalidades, instrumentos e dinâmicas de renovação. No final de 2011, realizaremos o encontro missionário e o administrativo-econômico.
Todos esses instrumentos da caminhada congregacional pouco valeriam sem o compromisso pessoal de conversão e de renovação. Cada um de nós, em seu próprio lugar, havemos de dizer: Nunc incipio, agora começo, e avante com toda confiança na Divina Providência.
A união fraterna para alimentar a caridade de Deus em nós
Não quero repetir o dito popular “a união faz a força”, mas “a união em Cristo faz a força” de uma família religiosa formada de todos os que “não pelo sangue, nem pela vontade da carne, nem pela vontade de um homem, mas por Deus fomos gerados” (cf. Jo. 1,13).
“Funiculus triplex difficile rumpitur, um cordel de tríplice fiação dificilmente se rompe. Já tivemos alguma prova disso: em certas Casas onde são poucos os confrades, mas unidos, há unidade de governo, há unidade na dependência, há unidade na caridade; em outras Casas os confrades são muitos e fazem muito pouco porque não há concórdia. Frater qui adiuvatur a fratre quasi civitas firma”.[3] E Dom Orione, diante de seus confrades, podia afirmar: “Esta bela união existe, graças a Deus e pelo esforço e sacrifícios devemos mantê-la”.
Se em nossa comunidade pudermos dizer a mesma coisa, não faltará a providência de Deus, nem aquela que faz brotar as vocações.
Dom Orione inculcou o modelo família para a vida comunitária, com as atitudes humanas, espirituais e práticas próprias da família (família natural, família de Nazaré...). Ele nos legou o espírito de família como nota típica da Congregação e, graças a Deus, esse espírito continua vivo.
No passado, o espírito de família minimizou o risco de formalismo. Hoje, pode ajudar-nos a vencer o individualismo. O espírito de família deve alimentar uma maior comunhão e maior dedicação em nossos relacionamentos.
Caríssimos Confrades, durante este ano de 2011, unifiquemos[4] de forma maior as relações entre nós, reagindo contra o movimento de fragmentação dos indivíduos em relação à comunidade; das comunidades em relação à província e das províncias em relação à Congregação como família única. Nós religiosos não somos meros associados nas comunidades; nossas casas e províncias não são simplesmente confederadas na Congregação. O espírito de Família gera unidade de Vida de Familia quando revigora as formas de relacionamento, as regras de vida comum e a participação nas comunidades, nas províncias, na Congregação.
Maior união fraterna. Sabemos todos o que isso significa e o que pede de nós. Avante, com generosidade. Tenho até acanhamento para descer a detalhes práticos e a dar indicações.
Quanta fraqueza provoca a anemia do amor fraterno!
Quanta vitalidade nos doa o sangue da caridade fraterna!
Que alegria discreta mas sólida, espiritual e duradoura nos vem da dedicação e de sabermos parar algum tempo ao lado dos confrades, do ser capazes de acompanhar um programa de vida comum e de apostolado, de paciência e compaixão[5] para com os limites físicos, psíquicos e espirituais próprios de cada irmão!
A propósito deste tema, aceno somente a um aspecto particular e novo.
Hoje existem instrumentos de comunicação que ameaçam dividir as comunidades. Refiro-me ao computador, à internet, ao celular, além dos tradicionais telefone e televisão. São bens que normalmente favorecem as relações. Mas que podem também se tornar uma tentação. As tentações são sempre uma distorção do bem. Tornam-se tentação quando nos oferecem relações alternativas: não as reais oferecidas pela Providência, mas as virtuais; não as que pedem de nós sacrifício mas as que só oferecem prazer; não as conjugais (comunitárias e de apostolado) mas as que escolhemos, por serem mais atraentes, menos empenhativas, as que podemos cancelar quando bem quisermos com um simples clic, endereçando-as à lixeira ou catalogando-as como spam.
Sabeis quanto eu estimo e mesmo faço uso das novas tecnologias da informática. Valorizemos esses meios com instrumentos de relação, de trabalho, de informação etc. Mas estejamos atentos à hierarquia dos valores e à prioridade em favor de nossas relações fraternas, para evitar distorções e subnutrição relacional.
Observando certos costumes no uso da comunicação virtual, me dá vontade de aplicar a esse campo a advertência de Dom Orione a respeito de certos religiosos que – dizia ele – fanno mirabilia fuori e miserabilia in casa[6], que têm sempre tempo para os outros e nunca para o Senhor e para os próprios confrades.
“Passa mais tempo no computador que com os Confrades”.
“Vê mais os monitores do que os colaboradores e os nossos assistidos.”
“Onde está fulano? Está por aí... de certo na televisão há muitas horas”.
Quantas horas passadas fora... navegando nas ondas e nos blogs da mídia.
No entanto, precisamos ficar um pouco mais em casa, na paróquia, na escola, no Pequeno Cotolengo, com nossos irmãos e confrades reais que Deus nos dá, e menos fora, na artificialidade da internet e dos outros meios. Hoje, não se sai só quando se passa pela porta da casa, mas muito mais quando alguém se refugia no escritório ou no próprio quarto[7] diante do computador pessoal, espairecendo sobre as avenidas e praças da internet. Há alguns que dedicam mais tempo à comunidade do facebook ou do twitter e similares, do que à própria comunidade religiosa.
Alguém me sugeriu que enviasse uma carta “disciplinar” sobre esse novo tema. Na União dos Superiores Gerais houve questionamentos a esse particular. A constatação é que, dada a natureza dos novos instrumentos, não se pode criar regras válidas e eficazes para todos.[8] A única via é a da autoeducação, a da formação e a da ascética do amor fraterno.
Maior empenho pelas vocações
Entendo falar sobre o empenho pela nossa vocação e pelo empenho para atrair novas vocações. Não se pode separar esses dois empenhos.
O Papa escreveu recentemente: “A fecundidade da proposta vocacional depende primariamente da ação gratuita de Deus, mas, como confirma a experiência pastoral, a proposta vocacional é favorecida também pela qualidade e pela riqueza do testemunho pessoal e comunitário de todos que já responderam ao chamado de Deus no ministério sacerdotal e na vida consagrada”.[9]
O que podemos fazer pelas vocações?
Fazer crescer a nossa vocação.
Certamente se cresce a força do nosso apelo de homens de Deus, se a nossa vida comunitária é animada pela caridade, se nossas obras de caridade “abrem os olhos para a percepção da fé e aquecem os corações de amor a Deus”, nós e a nossa Congregação nos tornamos focos de atração, como foi dito da primitiva comunidade cristã na qual “crescia grandemente o número dos discípulos”.[10]
Os problemas da crise vocacional na Igreja e na Congregação são reais e complexos. Alguns são específicos da vida religiosa. Mas é verdade o que peremptoriamente afirmava Dom Orione: "nós teremos sempre tantas vocações quantas soubermos merecer com a nossa oração e com o nosso bom exemplo. A questão vital das vocações se liga com a positiva solução da própria vocação de cada um de nós. Os jovens olham para os padres e religiosos e, se sentirem um gérmen de vocação, se sentirão atraídos para eles".[11]
Ao organizar o XIII Capítulo Geral, inserimos o tema vocacional (núcleo 4) porque nas consultas esse tema foi muito assinalado. Significa que existe uma grande expectativa a esse respeito. E muita preocupação!
O número de Profissões perpétuas (14) e de Ordenações sacerdotais (13) diminuiu muito. Províncias grandes como a Itália, a Argentina e a Polônia estão em crise vocacional e houve ano em que amargaram a total ausência de noviços.
Mesmo com o ingresso de vocações provenientes de nações de nova presença orionita, na verdade em número limitado, o saldo entre as entradas e as saídas (por morte ou abandono) é negativo, e devido a isso se registrou, nos últimos seis anos, uma significativa diminuição do número de religiosos, de 1034 para 934.[12] Em algumas nações é forte a tentação de justificar e planejar na perspectiva da falta de esperança.[13]
Caríssimos Confrades, é hora de querer bem e de maneira ainda mais forte, à nossa “pequena e na verdade grande Mãe, a Congregação”.
Antes de tudo, intensificando nossa oração pelas vocações (pela nossa e pelas novas), pois as vocações são graça de Deus, a ser implorada com a oração.
E depois, queiramos bem à Congregação, tornando a nós mesmos e o nosso apostolado mais dirigido ao cultivo vocacional (sinais do Evangelho e do carisma, provocadores e atraentes). É o que de melhor podemos decidir. A fidelidade vocacional e o fervor no apostolado são condições sine qua non, imprescindíveis para novas vocações.
O passo seguinte, certamente, será refletir e organizar o serviço pastoral da promoção e do cuidado das vocações. Toda boa iniciativa particular seja encorajada. E seja organicamente ligada num projeto vocacional provincial. A decisão 26 do XIIICG pede a criação do Centro Provincial Vocacional (diretor provincial, animador responsável, iniciativas, pessoas, encontros, calendário etc.) que dê continuidade, condição ordinária e ligação comunitária à promoção vocacional específica, em relação com a pastoral juvenil.
Será que poderemos recordar 2011 como o ano da retomada de nosso compromisso vocacional? Haverá de multiplicar a alegria e o reconhecimento de uns para com os outros.
Algumas datas do calendário para 2011
E finalmente, olhemos alguns compromissos para 2011. Antes de tudo, as datas do nosso calendário litúrgico: 16 de maio: Festa de São Luís Orione; 12 de junho: Memória do beato Francisco Drzewiecki; 29 de junho: SS. Apóstolos Pedro e Paulo, Festa do Papa; 5 de novembro Comemoração dos Confrades defuntos; 20 de novembro: Festa de Maria, Mãe da Divina Providência, Patrona principal da Congregação.
Dia 14 de março celebramos o Dia missionário orionita.
Em toda província, nos primeiros meses do ano, se realizarão as Assembléias provinciais de programação.
O ano de 2011 é ainda o ano das transferências dos superiores locais; na América Latina será em janeiro, ao passo que no hemisfério norte será em agosto.
Todo o Conselho Geral, no mês de março estará na América Latina com o programa de reunir os conselhos provinciais, os superiores locais, os diversos secretariados e o programa de visitar um bom número de comunidades.
Em maio, se realizará o Capítulo Geral das Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade.
Dois importantes eventos de 2011 estão fixados para o mês de novembro: 16-19 de novembro, o Congresso missionário internacional; 21-24 de novembro, o Congresso internacional de administração e economia.
Votos Finais
Chegue a todos a minha saudação afetuosa e a minha oração.
Uma saudação especial aos nossos enfermos, religiosos e leigos, que com o próprio sofrimento oferecem e suplicam comunhão de caridade que a todos une sempre mais em Cristo.
Dom Orione do Céu nos acompanhe com sua proteção e sua intercessão: “Bom Ano Novo! O futuro está nas mãos de Deus, que tudo governa e dispõe com sabedoria. O Senhor Deus centuplique seus favores sobre vossas pessoas, sobre vossas famílias, sobre todos vós que trazeis escritos e gravados em vossos corações. Seja um ano de consolações, de alegria santa, de um bem imenso no campo de vossas almas, e na de vosso próximo”.
Nossa Senhora, Rainha da paz, alcance para todos a verdadeira paz com Deus e com nossos irmãos, para continuarmos a fazer o bem sempre, a todos e o mal nunca, a ninguém.
Vosso irmão e pai em Dom Orione ,
Pe. Flavio Peloso, FDP
(Superior geral)
[1] Cf. a Carta a respeito das Assembleias provinciais de programmação do dia 6 de novembro de 2010.
[2] Cf. a precedente Circular “Impastati di carità” in Atti e comunicazioni 2010, n. 232, p.107.
[3] O cordel de tríplice fiação é difícil de ser rompido porque é formado por três fios trançados entre si.“O irmão que é ajudado por outro irmão é como uma cidade firmemente estabelecida”; Riunioni p. 80.
[4] Uso o verbo unificar (do latim unitas facere) em vez de unir, porque exprime a atividade concreta do “construir unidade”.
[5] Naquele famoso Hino à caridade, gravado num disco em 1936, Dom Orione exortava: “Sejamos apóstolos da caridade, do amor puro, do amor alto, universal; façamos reinar a caridade com a doçura do coração,e com nos compadecermos mutuamente”.
[6] Dom Orione fala disso na famosa carta de Mar de Espanha, 30 de agosto de 1921, no contexto do espírito de piedade, isto é, do amor a Deus: “Mesmo quando fora de casa o nome deles corre nos lábios de todos, e todos admiram a habilidade deles, a inteligência e até mesmo o zelo apostólico, mas os de Casa que o têm sempre debaixo dos olhos, que comem o pão com ele, que têm direito de ter nos Sacerdotes Anjos que os guiem, não estão absolutamente satisfeitos. Mirabilia (maravilhas), fora: em casa, miserabilia (coisas miseráveis)”; Scritti 55, 177. A caridade fraterna, aquela não somente natural ou de simples simpatia como deve ser a caridade de nós religiosos, tem a sua fonte na caridade de Deus: “Quem tem a piedade faz mirabilia, e quem não tem a piedade faz miserabilia”; Anotações dos Exercícios para as PIMC de agosto de 1923. Dom Orione observava a síndrome do religioso-servo como “gente que, fora de casa, muitas vezes parece que faz mirabilia e em casa faz miserabilia”; Parola XI, 62.
[7] Assim como é proibido ter no quarto o televisor, quanto mais o computador com internet! Se não fica bem ler o jornal quando se está à mesa com os outros, quanto mais o fato de ter o celular ligado quando estamos à mesa ou em reunião, ausentar-se ou obrigar os demais a fazer silêncio porque “eu devo falar ao telefone”.
[8] Esse tema, discutido no Conselho geral, gerou a Nota sobre o uso dos mass media do Pe. Achille Morabito, publicada in Atti e comunicazioni, 62 (2008), pp. 327-332.
[9] Mensagem para o Dia Mundial das Vocações de 2010.
[10] Cf. At. 2, 42; 4, 32; 5, 12-14; 6, 1-7.
[11] Scritti 99,118. “Recordem os religiosos que o exemplo da própria vida constitui a melhor propaganda do próprio Instituto e o melhor convite para abraçar o estado religioso”, recorda Perfectae caritatis, 24. Cf. Circular Vocazione e vocazioni in Atti e Comunicazioni 2007, n. 222-223, pp. 3-18.
[12] Dados de 1° maio de 2010.
[13] Entendo dizer que quando alguém cai na atitude de resignação, renuncia a reagir e a projetar porque “tanto faz como tanto fez”, passa-se a organizar os projetos admitindo prosseguir como estamos atualmente, da forma que se pode… e até quando se puder.
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