Sobre a cruz, o Verbo feito carne, assumindo nossa finitude, abre-a desde dentro sobre o infinito.
Cristo, de fato, através da própria morte, através das nossas mortes, através de nossa condição de morte, não retorna sozinho ao seu Pai, que doravante se tornou nosso. “Eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12, 32). O crucificado tornou-se incandescente pelo fogo do Espírito. Ao seu contato, os laços da morte e do inferno se rompem. Uma mão violenta arranca Adão, a infinidade de “Adões”, cada um de nós, de sua solidão, inviolável como os muros que a circundam. Não existem mais muros, tudo está aberto; os dois “Adões”, o primeiro e o último, se abraçam na imensidade. Tudo experimenta a reviravolta: todo desespero que se interpunha entre Deus e Deus, entre Deus e Deus feito homem, e logo, entre Deus e o homem, toda esta separação se consuma na unidade do Pai e do Filho, no “retorno” glorioso do Filho ao Pai, retorno do cordeiro que se carregou de todo o pecado do mundo. O inferno e a morte afundam-se, como uma insignificante gota de ódio, no abismo do fogo da divindade. As portas dos infernos foram arrancadas de suas dobradiças, e a luz do Tabor passa através delas. “Tudo agora é transbordante de Luz, céus e terra, e os infernos juntos”, diz a liturgia bizantina. A vida, a luz, o Espírito jorram afinal, fluem de um Deus que não é mais estranho, estrangeiro, quase demasiado pleno e pesado, um Deus que nos esmagaria; nascem, ao invés, de um Deus crucificado, aniquilado , de um Deus esvaziado de amor, para que o outro seja e que encontre em Deus, o espaço da própria liberdade liberada. Mais abaixo de nossa vergonha, de nossa dúvida, das nossas desventuras, onde somente conseguimos balbuciar: “Creio, mas aumentai minha fé” (Mc 9, 24), não existe mais nada, mas o Crucificado-Glorificado que nos torna participantes de sua Glória.
É certo, o homem continua a ser crucificado, e Cristo o é com ele: mas doravante, exatamente no abissal de nossa angústia, “tudo está consumado”, o Deus encarnado ressuscita, nos ressuscita. Cristo se afundou a uma profundidade tal que, cada queda nossa, por pouca que seja a nossa fé, é uma queda nEle. Basta abandonar-se – ó pobreza, humildade, confiança de criança – a este Deus encarnado, abandonado, glorificado, basta descobrir, mais abaixo de nossas baixezas, este Deus crucificado destroça as portas de nosso inferno, para saber, de uma maneira tal que o coração exulta, que o Reino já está em nós e no meio de nós; paz, luz, alegria, não existe mais exterioridade, somente rostos.
O rosto de Deus no homem, aquele rosto que a sagrada Síndone (Santo Sudário) desvela ao ocidente noturno de nossos dias, aquele rosto no limite da decomposição e da glória – “Tenho sede” (Jo 19, 30) - ; O rosto de Deus no homem nos consente de descobrir o rosto do homem em Deus e de serví-lo em cada homem.
Um rio de fogo, a história autêntica, aquela da comunhão dos santos – que são os pecadores perdoados – arrasta séculos e mundos na direção da Cruz, tornada para sempre, das profundidades abissais dos infernos aos sumos vértices dos céus, a Árvore da Vida.
O. Clément, I visionari, 11-12.
Cristo, de fato, através da própria morte, através das nossas mortes, através de nossa condição de morte, não retorna sozinho ao seu Pai, que doravante se tornou nosso. “Eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12, 32). O crucificado tornou-se incandescente pelo fogo do Espírito. Ao seu contato, os laços da morte e do inferno se rompem. Uma mão violenta arranca Adão, a infinidade de “Adões”, cada um de nós, de sua solidão, inviolável como os muros que a circundam. Não existem mais muros, tudo está aberto; os dois “Adões”, o primeiro e o último, se abraçam na imensidade. Tudo experimenta a reviravolta: todo desespero que se interpunha entre Deus e Deus, entre Deus e Deus feito homem, e logo, entre Deus e o homem, toda esta separação se consuma na unidade do Pai e do Filho, no “retorno” glorioso do Filho ao Pai, retorno do cordeiro que se carregou de todo o pecado do mundo. O inferno e a morte afundam-se, como uma insignificante gota de ódio, no abismo do fogo da divindade. As portas dos infernos foram arrancadas de suas dobradiças, e a luz do Tabor passa através delas. “Tudo agora é transbordante de Luz, céus e terra, e os infernos juntos”, diz a liturgia bizantina. A vida, a luz, o Espírito jorram afinal, fluem de um Deus que não é mais estranho, estrangeiro, quase demasiado pleno e pesado, um Deus que nos esmagaria; nascem, ao invés, de um Deus crucificado, aniquilado , de um Deus esvaziado de amor, para que o outro seja e que encontre em Deus, o espaço da própria liberdade liberada. Mais abaixo de nossa vergonha, de nossa dúvida, das nossas desventuras, onde somente conseguimos balbuciar: “Creio, mas aumentai minha fé” (Mc 9, 24), não existe mais nada, mas o Crucificado-Glorificado que nos torna participantes de sua Glória.
É certo, o homem continua a ser crucificado, e Cristo o é com ele: mas doravante, exatamente no abissal de nossa angústia, “tudo está consumado”, o Deus encarnado ressuscita, nos ressuscita. Cristo se afundou a uma profundidade tal que, cada queda nossa, por pouca que seja a nossa fé, é uma queda nEle. Basta abandonar-se – ó pobreza, humildade, confiança de criança – a este Deus encarnado, abandonado, glorificado, basta descobrir, mais abaixo de nossas baixezas, este Deus crucificado destroça as portas de nosso inferno, para saber, de uma maneira tal que o coração exulta, que o Reino já está em nós e no meio de nós; paz, luz, alegria, não existe mais exterioridade, somente rostos.
O rosto de Deus no homem, aquele rosto que a sagrada Síndone (Santo Sudário) desvela ao ocidente noturno de nossos dias, aquele rosto no limite da decomposição e da glória – “Tenho sede” (Jo 19, 30) - ; O rosto de Deus no homem nos consente de descobrir o rosto do homem em Deus e de serví-lo em cada homem.
Um rio de fogo, a história autêntica, aquela da comunhão dos santos – que são os pecadores perdoados – arrasta séculos e mundos na direção da Cruz, tornada para sempre, das profundidades abissais dos infernos aos sumos vértices dos céus, a Árvore da Vida.
O. Clément, I visionari, 11-12.
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