A pouco tempo fizemos a memória (anamnese) e vivenciamos a ressurreição de Jesus, o Filho de Deus, em nossas vidas. Mas constatamos que se criou um certo clichê com relação ao pensar e as ideias construídas que emanam acerca do tema da ressurreição.Antes de qualquer coisa, vale ressaltar que, uma das grandes dificuldades do ser humano está no ato de falar de Deus. Embora o homem apresentar o desejo de conhecer a Deus, e assim poder falar de Deus, ele sempre vai encontrar “barreiras” na linguagem. Assim, como é sabido, o conhecimento e a linguagem humana acerca de Deus são limitados. Diante disso, o que nos resta é falar de Deus a partir das criaturas ou por suas obras e pela maneira humana limitada de conhecer, pensar[1]. Ademais, o ato de conhecer a Deus se apresenta, em primeira instância, no conhecimento experiencial, que a nosso modo formamos um discurso sobre Deus de acordo com a cultura vivida, no qual se pode apreender de Deus apenas o que ele não é. Mais ainda, entre o Criador e a criatura, a minha compreensão de Deus parte da dessemelhança.
Diante da dificuldade de falar de Deus, como é possível vencer os clichês para expressar pela linguagem a ressurreição de Jesus? Eis aí a questão que não deve se ignorar e que ressoa em nossos ouvidos com várias expressões, que muitas vezes são apresentadas de forma errônea por não serem ideias claras. Por exemplo, as palavras: renascer, pensamento de Cristo, opção, vida nova, entre outras palavras ou frases que, certa forma, são limitadas ou carregadas de ambiguidades, que dificultam na compreensão e na explicitação do falar da ressurreição.
Embora a dificuldade de falar de Deus e, consequentemente, da ressurreição, o que se pode salientar, num primeiro momento, é que a ressurreição foi uma novidade que mudou o discurso sobre Deus, pois o destaque se volta para Jesus que triunfa sobre a morte. Essa constatação nos foi transmitida pelos testemunhos dos apóstolos em forma de acontecimento ou fato manifestado por sinais (sepulcro vazio, as aparições – Mc 16, 5-6)[2] que recorrem a fé pessoal, pois a ressurreição não é possível saber o que ela é em si mesma, mas sabemos que Jesus ressuscitou. Assim, não podemos conhecer a ressurreição, porque ela aconteceu, foi um evento. Em outras palavras, a ressurreição é uma linguagem que expressa Cristo e que foi um acontecimento que deve ser acolhido conforme a adesão livre e pessoal pela fé. “Só tu, noite feliz soubeste a hora em que Cristo da morte ressurgia”[3]
Nesse sentido, é necessário articular a fé com a ressurreição. Para entendermos a ressurreição é preciso ter a mesma fé dos apóstolos que avistaram o túmulo vazio e, consequentemente, seguiram com as aparições do ressuscitado (Mc 16, 17-18)[4]. Essa fé tem elementos afetivos, mas não deixa de ser uma virtude da inteligência pelo fato de interpretar os acontecimentos e a forma de entender o mundo. Com isso, a fé está intimamente interligada com a ressurreição, porque Jesus se manifesta aos apóstolos que aceitam ou acolhem a verdade de Deus, que é a expressão maior da fé. Em outros termos, a ressurreição foi significativa para os discípulos e a nossa fé é mesma fé daqueles que testemunharam a ressurreição. Assim, a psicologia da nossa fé deve ser elaborada a partir da fé dos discípulos.
Portanto, a ressurreição é a chave hermenêutica de leitura do Segundo Testamento, porque ela ilumina todos os atos e palavras de Jesus. Dessa forma, a ressurreição é um acontecimento, uma realida
de de ordem transcendente, ou seja, um acontecimento que não termina na história com um final, mas é transcendente pelo fato que Jesus está em Deus na totalidade de seu ser[5]. Ainda mais, posso afirmar que a ressurreição é a base da fé a partir do momento que o acolhimento de Jesus, que comporta o acolhimento da verdade de Deus, se torna a base da expressão da nossa fé. Por fim, a fé na ressurreição é construída a partir do fato que nos “mergulha” no aprofundamento do conhecimento de Deus, que vai além do tempo e do espaço, cujo ato está no aprofundar no conhecimento de Deus, sem desvincular da dimensão espiritual, e assim poder dizer que Deus está em Jesus e Jesus está vivo em Deus.Cl. José Luiz Sauer Teixeira (estudante de teologia)
[1] Cf. CATECISMO DA IGREJA CATOLICA. São Paulo: Loyola, 2000, n. 39-40.
[2] Cf. BÍBLIA: A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 2003.
[3] Cf. MR. Vigília Pascal, Panegírico Pascal (Exsultet), Tipografia Poliglota Vaticana, 1970, p. 272.
[4] Cf. BÍBLIA: A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 2003.
[5] Cf. CATECISMO DA IGREJA CATOLICA. São Paulo: Loyola, 2000, n. 647.
[2] Cf. BÍBLIA: A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 2003.
[3] Cf. MR. Vigília Pascal, Panegírico Pascal (Exsultet), Tipografia Poliglota Vaticana, 1970, p. 272.
[4] Cf. BÍBLIA: A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 2003.
[5] Cf. CATECISMO DA IGREJA CATOLICA. São Paulo: Loyola, 2000, n. 647.
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