«Caifás, que era Sumo Sacerdote naquele ano, disse-lhes: "Vós não entendeis nada, nem vos dais conta de que vos convém que morra um só homem pelo povo, e não pereça a nação inteira." Ora ele não disse isto por si mesmo.»Que significam estas últimas palavras - «ele não disse isto por si mesmo»» -, senão que Caifás não tirou estas palavras do fundo de si mesmo? Na verdade, já antes de Caifás existir, tinham sido proferidas estas palavras: «Jesus tinha de morrer pelo povo.» Sim, estas palavras tinham sido reveladas aos santos profetas, tinham até sido proferidas antes de os profetas virem a este mundo, antes de Abraão ter vindo à existência, antes de Adão ter sido formado. Estas palavras estavam já na mente do Pai quando declarou: «Façamos o homem à Nossa imagem» (Gn 1, 6). Foi nessa altura que ficou dito que Jesus tinha de morrer pelo povo.Portanto, Caifás não o disse por si mesmo, mas porque era o «Sumo Sacerdote naquele ano». E o que disse ele? [...] Que era necessário que um só homem, um homem único, o Santos dos santos, o Sol da justiça, Jesus Cristo, morresse pelo povo; e não apenas pelo povo saído de Abraão, mas ainda por todos aqueles que Deus tinha destinado, desde a criação do mundo, a serem Seus filhos (Ef 1, 5). Esses que tinham sido expulsos do paraíso original e dispersos pelos quatro cantos do mundo; era necessário reuni-los de toda a massa humana, até ao último eleito.
Rupert de Deutz (1075-1130), monge beneditino Comentário ao Evangelho de São João, livro 10; PL 169, 646 ss.
D. Ruberval Monteiro da Silva OSB
Mosteiro da Ressurreição
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