terça-feira, 14 de outubro de 2008

Reflexão para a 28a terça-feira


(Gl 5,1-6; Sl 119; Lc 11,37-41)
Decaídos?
Podemos perceber e acolher uma sensível coincidência entre o pensamento de Paulo, expresso na primeira leitura de hoje, e a reação do Senhor jesus diante da supresa do fariseu que «convidou-o ao almoço» (Lc 11,37). Pode-se dizer que o fariseu convida ao almoço o Senhor, mas não lhe permite comer! Este homem, mesmo em toda sua gentileza, não necessariamente hipócrita, convida o Senhor Jesus à sua casa, sem acolher até o fim aquilo que o hóspede pode trazer à sua casa. O gesto direto do Senhor que «entrou e se colocou à mesa» é bastante constrangedor, e por isso, muito provavelmente, não casual. Seria como convidar uma pessoa que respeitamos e amamos pela sua vida espiritual e que não abençoasse a mesa, antes de começar a comer... Provocaria, em nós, pelo menos, a mesma surpresa que atingiu o fariseu, bloqueado diante do fato que um estimado Rabbi «não tivesse feito as abluções antes de comer» (11,38). Diante de semelhantes atitudes, que colocam em crise as prática religiosas, haveria motivo para usar as mesmas expressões de Paulo, mas ao contrário: «decaístes da graça!» (Gl 5,4).
Frequentemente, também nós julgamos toda uma série de omissões, quanto à prática e usos religiosos, como um sinal de decadência, e muitas vezes, corresponde à verdade. O Senhor Jesus nos leva ainda além, e nos pede para colocar a atenção do nosso coração, desviando do que se faz ou se deveria fazer «antes da comida» (Lc 11,38), ao que está ainda antes deste: «o vosso interno» que é, tão frequentemente, «pleno de roubos e maldades» (11,39). Por outro lado, o apóstolo Paulo diz, na mesma linha libertadora e exigente: «não é a circuncisão que conta, ou a não circunsisão, mas a fé que opera por meio da caridade» (Gl 5,6). O Senhor não hesita em dar a esta caridade um nome ainda mais preciso e concreto: «esmola» (Lc 11,41).
O que parece faltar a este piedoso e gentil fariseu é a capacidade que falta, frequentemente, também a nós: não somente convidar e hospedar o outro na nossa vida, mas acolhê-lo a partir de sua vida, e não a partir das nossas convenções, geradas pelas respeitáveis convicções. Temos, pelo menos, duas responsablidades: acolher desde o «externo», e acolher, ao invés, do «interno» (11,39). Se nossa vida, como aquela dos outros, pode ser comparada a um «vaso» ou um «prato», o Senhor Jesus nos pede para olhar o interno, e não à limpeza externa. O Senhor nos pede para compartilhar o que é contido nas nossas respectivas vidas: assim «tudo será puro» (11,41). O que nos permite que não sejamos «decaídos da graça» (Gl 5,4) é a crescente capacidade de olhar-nos dentro e de enxergar dentro das coisas. Então, também as práticas, os costumes, os usos e as prescrições são como as notas de um canto, pleno de vida e de amor: «Muito me alegro com os vossos mandamentos, que eu amo, amo tanto, mais que tudo! Elevarei as minhas mãos para louvar-vos, e com prazer, meditarei vossa vontade». (Sl 119)
Fratel Michel Davide OSB

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