quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Reflexão para a 26a quinta-feira


Reflexão para a 26a quinta-feira do Tempo Comum, anos pares

Simplesmente!

Continua o ensinamento do Senhor Jesus sobre a oração! Depois de ter-nos ensinado o modo de dirigir-nos a Deus, chamando-o de Pai, e apresentando-nos diante dele em toda nossa pobreza, o Senhor Jesus nos revela a finalidade da oração: «Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celeste dará o Espírito Santo aos que o pedirem!» (Lc 11,13). E mesmo assim, cada dia continuamos a pedir o que, talvez, não tenhamos verdadeiramente necessidade, ao ponto de merecer, por isso, a reprovação do apóstolo: «Sois assim tão insensatos? A ponto de, depois de terdes começado pelo espírito, quererdes terminar na carne?» (Gl 3,4). É verdade que, na nossa existência, temos necessidade de tantas pequenas e grandes coisas, mas nem as pequenas, nem as grandes coisas de nossa vida – seja que tenham sido concedidas, seja que tenham sido negadas – conseguem dar-nos aquele senso de plenitude, que somente a presença do Espírito, em nosso coração, pode dar-nos.

A presença do Espírito em nós, qual dom supremo do Pai e fonte de todo e qualquer outro dom, permite-nos transformar o nosso coração de «maus» (Lc 11,13) em um coração bom, semelhante aquele do Pai celeste: «Se o filho lhe pede um peixe, lhe dará uma cobra? Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião?» (Lc 11,11). O grande milagre da oração não é obter isto ou aquilo, mas sim transformar o nosso coração, conformando-o com aquele do Filho, habitado por imensa confiança. Cada vez que entramos na oração, deveríamos poder contemplar «diante de nossos olhos, aos quais foi representado, como que ao vivo, Jesus Cristo crucificado» (Gl 3,1) que, do alto de sua cruz, cada dia sopra sobre nós o Espírito da vida nova. Se é verdadeiro que «aquele que vos dá generosamente o Espírito e realiza milagres entre vós» (Gl 3,5) cumula-nos de tudo aquilo de que temos necessidade para viver, da mesma forma, o próprio Espírito revela-nos aquilo de que, verdadeiramente, carecemos. No outono prematuro de sua existência, Maria Callas, segundo a interpretação cinematográfica de Franco Zeffirelli, falando com seu empresário sobre a oração, diz, nestes termos: «Frequentemente pedimos a Deus isto ou aquilo, e não sabemos se nos concederá, mas talvez, seria muito melhor pedir para ser simplesmente uma mulher, pedir para ser simplesmente um homem, e isto Ele não pode deixar de conceder-nos»[1].

Todos nós devemos aprender – uns mais, outros menos – a pedir o essencial, que é sermos homens e mulheres cumulados daquele Espírito, capaz de fazer-nos sempre levantarmo-nos do «leito» (Lc 11,7) das nossa comodidades e fechamentos, para dar-nos aos outros, do mesmo modo como Deus mesmo, cada dia e em todo momento, torna-nos participantes de seu sopro vital, o qual nos permite que sejamos simplesmente vivos, para tornar-nos simplesmente homens capazes de «dar coisas boas», de sermos bons como o Pai celeste (cf. Mt 5,45). Todo o resto, pelo qual podemos ser enganados, poderia levar-nos muito longe do segredo da vida, longe do coração do próprio Deus, induzindo-nos inutilmente a pedir o que, simplesmente, não temos necessidade para estarmos vivos e sermos capazes de doar-nos.

Fratel Michel Davide OSB

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