sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Reflexão para a 27a sexta-feira


(Gl 3,7-14; Sl 110; Lc 11,15-26)

A armadura de Deus

O Senhor Jesus coloca-no de frente com o mistério da fortaleza, que não está na vontade e capacidade de permanecer «fiel a todas as coisas escritas no livro da lei, para praticá-las» (Gl 3,10), mas muito mais na bem-aventurança que provém do fato de fazer cada pequena coisa «comigo» e não «contra mim» (Lc 11,23), como diz o Senhor Jesus. Muitas vezes, cotidianamente, experimentamos nossa fraqueza exatamente enquanto buscamos ser, cada um de seu modo, «fortes e bem armados» (Lc 11, 21), afim de lutar contra o mal. Cada dia fazemos a experiência de alguém que «chega [...] mais forte que ele e o vence, arranca-lhe a armadura, na qual confiava, e reparte o que roubou» (Lc 11,22). Infelizmente, também nós corremos o risco de pensar como Saul e seus soldados, diante do gigante Golias, e apressamo-nos em revestir o pequeno Davi de nosso coração com a sua «armadura» (1Sam 17,38), tornando-o, deste modo, incapaz de «caminhar com tudo isto» (17,39), um estratagema que, ao invés de defender-nos, torna-nos pesados, fazendo-nos mais vulneráveis: o segredo da luta está, de fato, na agilidade!

A «armadura de Deus» (Ef 6,11), com a qual podemos enfrentar os nossos inumeráveis «Beelzebul» (Lc 11,19), não é outra que o continuar unidos ao Senhor Jesus, permanecendo recolhidos interiormente, para deixar que «o dedo de Deus» (11,20), que nos buscou desde o primeiro dia da criação – segundo a belíssima imagem de Michelangelo – , continue a plasmar, em nós, aquele homem «justo [que] viverá em virtude da fé» (Gl 3,11). Viver de fé, viver na fé, crescer na confiança, significa acolher o mistério daquela comunhão que nos une indissoluvelmente uns aos outros diante de Deus, e que nos torna, deste modo, «filhos de Abraão» (3,7), exatamente porque aceitamos ser «abençoados junto com Abraão, que acreditou» (3,9. O que faz a força é próprio a união, tanto que o Senhor Jesus explica como «o espírito imundo» (Lc 11,24) «toma consigo outros sete espíritos piores que ele. E, entrando, instalam-se aí. No fim, esse homem fica em condição pior do que antes» (11,26).

Se verdadeiramente é preciso empenhar-nos com todas as nossas forças paraa manter a casa de nosso coração «varrida, limpa e adornada» (11,25), é necessário que, além de ser «limpo», nosso coração seja também habitado por uma comunhão profunda e alargada com o Senhor e com quantos são animados pelo seu Espírito. Somente assim ele não se «dispersa» (11,23). A fé é, antes de tudo, entrar em comunhão, e o comportar-se de um certo modo é somente uma consequência da primeira. Mudar esta «divina hierarquia» nos coloca nas mãos a Beelzebul, que busca de todas as formas provocar o efeito contrário: «Quem pratica estas coisas, viverá por elas!» (Gl 3,12). O risco terrível é aquele de iludir-se de fazer alguma coisa por Deus e, ao invés, fazê-lo exata e somente por si mesmo. A nossa força está na armadura de Deus que é a comunhão: um simples «manto» como aquele que Jônatas – filho de Saul – «deu a Davi» (1Sam 18,4) porque o «amava como a si mesmo» (18,3). De fato, é na comunhão, no estar «comigo» (Lc 11,13) que «em Cristo Jesus a benção de Abraão» passa «às gentes, para que recebêssemos a promessa do Espírito mediante a fé» (Gl 3,11). O Espírito é aquele que unifica e pacifica.

Fratel Michel Davide OSB

 

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