quarta-feira, 8 de outubro de 2008

27a quarta-feira do Tempo Comum



(Gl 2,1-2.7-14; Sl 116; Lc 11,1-4)



Pobres!
Na sua apologia, o apóstolo Paulo não hesita em revelar em público o seu caminho de pregador do evangelho, com todo o trabalho de colocar a sua vocação pessoal – única – em sintonia com o sentir da Igreja toda. Paulo, depois de seus primeiros «quatorze anos» (Gl 2,1) de apostolado, sente a necessidade de ir ter com «Tiago, Céfas e João, tidos como colunas», para receber deles a confirmação de «comunhão» (Gl 2,9). Sem a comunhão, de fato, o risco é aquele de «correr ou de ter corrido em vão» (Gl 2,2). Mesmo a comunhão não é algo fácil, nem muito menos uma realidade que se possa dizer já atingida, de modo estável e definitivo. No prosseguimento do relato, de fato, Paulo não tem vergonha de, referindo-se a uma das «colunas», dizer: «opus-me a ele abertamente, pois ele merecia censura» (Gl 2,11). A comunhão não é nunca – se autêntica – o «concordismo» de uma terrível e entediante monodia, mas muito mais a capacidade e a vontade de tocar a própria nota na sinfonia que alegra a vida no céu e na terra.
Talvez, é esta estraordinária experiência de comunhão profunda e autêntica, que «um dos discípulos» entreviu no rosto do Senhor Jesus, enquanto «encontrava-se em um lugar, a rezar» (Lc 11,1). Esta idéia agrada-nos muito! E é, talvez, a atração desta experiência sublime de unidade e de amor que deveria impulsionar-nos, a cada dia, suplicar ao Senhor: «ensina-nos a rezar». O Senhor Jesus ensina-nos a rezar e, sugerindo-nos algumas palavras para a oração, infunde dentro de nós aquela que é a essência da revelação no Verbo\Filho: «O que nos recomendaram foi somente que nos lembrássemos dos pobres» (Gl 2,10). No meio de todas as dificuldades «dogmáticas» que o anúncio cristão conhecia nos primeiros tempos da Igreja – como sempre – , os apóstolos insistem sobre o fato de recordar-se dos pobres. Entre todos os ensinamentos possíveis que o Senhor Jesus poderia dar-nos sobre a oração, a sua escolha cai sobre a necessidade de recordar-nos de ser filhos e pobres: «Pai [...] dai-nos hoje o o pão nosso de cada dia» (Lc 11,3).
A oração é reconhecer a nossa pobreza sem estarmos curvados sobre nossas pobrezas, mas abrindo as nossas mãos e o nosso coração – vazio – diante da plenitude. O Senhor nos convida à coragem de «correr» (Gl 2,2) na direção do Pai, sem temor, mas capazes de reconhecer a imensa «graça» (Gl 2,9) conferida a cada um de nós. E a experiência de toda graça encontra sua origem e cumprimento na alegria de ser habitado por aquele Espírito que, em nós, grita: «Abbá, Pai!» (Gl 4,6). Rezar, de fato, é viver na coragem da verdade, que liberta ( cf. Gl 8,32), porque nos faz conscientes de nossa pobreza, sem fazer-nos envergonhar do nosso nada, mas tornando-o um lugar de diálogo e de comunhão, com nossos irmãos e com o Pai celeste, que nos liberta de todo medo, evitando que, deste modo, caiamos na «tentação» (Lc 11,4) de deixar-nos «arrastar pela hipocrisia deles» (Gl 2,13). A oração é uma escola e é uma escola de e da verdade.
Fratel Michel Davide OSB

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