sábado, 18 de julho de 2009

sacrários

vi ontem ó Deus três sacrários:
vi um sacerdote indeciso
olhares pra um lado e outro
vi então ele acudir um bêbado caído ao chão
machucado, ferido em seu orgulho, Jesus debaixo da cruz:
segundo sacrário
vi o sacerdote levantar o bêbado,
carregá-lo ensangüentado,
um sacrário carregando outro
os dois cobertos de sangue
vi-o entregá-lo à mulher:
maria, mãe, esposa
vi então que o sacerdote tomava o seu rumo
pela viela
e dali seguiu por uma trilha
que o conduziu à uma cabana
vi-o perguntar à criança, aquela que tudo sabe:
“onde está seu avô?”
e vi que ela, criança, pequeno de poucas falas, apontava pra cabana
lá dentro estava o avô, terceiro sacrário
ancião de muitos dias, acamado, cansado, senhor de tantas lidas
doente, reclamando de dores
vi o sacerdote novamente indeciso
e vi o ancião de muitos dias e lidas,
avô dizer-lhe:
“da outra vez o sr. me deu uma bênção e tudo melhorou”
solução encontrada, Hora de outra bênção,
água benta, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo...
e dali aquele sacrário vivo,
homem de Deus saiu, retomou a viela
entrou no mato
vi ele chegar ao convento
e sorrateiramente lavar o hábito ensangüentado
uma mancha de sangue permaneceu.
ora, o que vi ontem em meio ao lixo humano,
em meio às dores deste mundo
na rua, bêbado, caído
na cabana, velho doente,
na pessoa de um sacerdote
meu Deus, não era a escória,
não eram simplesmente homens, nem anjos
tampouco heróis
eram sacrários
meu Deus, por 3 vezes, como diria meu avô:
“por essa luz que ilumina”,
eu Te vi.
(de um autor desconhecido, medieval, que segundo dizem teria servido de inspiração para umberto eco escrever “o nome da rosa”)

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