sábado, 6 de fevereiro de 2010

Circular do Diretor geral em nove dias

O ORIONITA SACERDOTE
Unidade de vocação e especificidade de ministério

Quinto dia
Carisma e identidade do orionita sacerdote
É fácil compor a lista das características espirituais e apostólicas do orionita sacerdote, simplesmente tomando a biografia e os escritos de Dom Orione. Aliás, isso já foi feito e é sempre de fundamental importância.[Ignazio Terzi, Espiritualidade de Dom Orione, “Revista de Ascética e Mística”, 23(1972), 205-213; Giuseppe Laurendi, Aspectos da espiritualidade sacerdotal do Beato Luís Orione, “Messaggi di Don Orione” 48 (1981); Marian Klis, O Orionita - Filius Ecclesiae, “Messaggi di Don Orione” 101 (2000), p.57-65; Vincenzo Alesiani, “Ele teve a têmpera e o coração do apóstolo Paulo”, “Messaggi di Don Orione” 109 (2002), p.5-43; Luigi Fiordaliso, As virtudes sacerdotais de Dom Orione, “Messaggi di Don Orione” 111 (2003), p.5-18; Flavio Peloso, Dom Orione: que tipo de padre?, “Messaggi di Don Orione” 115 (2004), p.57-72.]. Temos aí algo de específico, mas a maior parte do que encontramos se refere à identidade geral do orionita que, naquele tempo, valia primordialmente para o sacerdote.

Para definir a identidade do orionita sacerdote, parecer-me que seja mais frutuoso partir do núcleo carismático essencial transmitido por Dom Orione e bem conhecido na sua formulação: “Confiando na Divina Providência, colaborar para levar os pequenos, os pobres e o povo à Igreja e ao Papa, para ‘Instaurare omnia in Christo’, mediante as obras da caridade”.[ É esta uma formulação sintética, dita e escrita por Dom Orione com inumeráveis variantes literárias, sempre, porém, constante na essência do conteúdo. Veja-se o Capítulo I das Constituições dos FDP do dia 22/07/1936, hoje no art.5, e o das PIMC (12.9.1935), Hoje no art.3, escritos com tanto cuidado por Dom Orione no momento de apresentar à Igreja o seu carisma.]

Seguindo o impulso do Fundador, nossa Congregação deu prioridade aos ministérios da caridade e, seguindo essa dinâmica e finalidade, intuiu e praticou também o ministério sacerdotal de seus religiosos que Dom Orione queria que fossem “os padres que correm, trabalhadores e apóstolos do trabalho” (Scritti 55, 38), “tut d'un toc… preti santi non da pipa né da saletta, ma apostoli dal cuore grande come il mare che li spinga avanti e avanti” (homens assim...padres santos, não folgadões nem padres de sala de visita, mas apóstolos de coração do tamanho do mar, padres que nunca parassem e fossem à frente) [Usando expressões da linguagem em voga naquele tempo, Dom Orione estimula seus clérigos: “Agora introduziram na Itália o passo romano; e nós com que passo vamos marchar? Compreendam todos que nós marcharemos com um passo apostólico! Não basta só o passo cristão, mas com passo apostólico! E quem não vibra pela caridade, quem não tem a força da chama apostólica não fique conosco. Seja talvez um bom trapista! Mas quem quiser ficar conosco tem que ser um campeão da caridade”; Discurso do dia 02/01/1938, Parola VIII, 6.] e que marchassem com “passo apostólico ” (Scritti 66, 454). A padres que lhe enviavam vocações escrevia que o seu não era um “Seminário destinado a formar padres seculares. Nosso seminário quer ser, com a graça de Deus, um pequeno Seminário de apóstolos da Fé e da caridade” (Scritti 93, 74). Nossas regras falam de um “corajoso apostolado de ponta” (Norma 116).

Don Orione - grande místico que “vivia em Deus, de Deus, e por Deus” – viveu e propôs uma vida pendular “do Deus adorado ao Deus servido no irmão”. Ele nos preparou a um apostolado extremamente ativo para tornar presente na sociedade Cristo e a Igreja, mediante as obras da caridade. [Cfr Uma espiritualidade das mangas arregaçadas. Unificação interior de ação e contemplação no beato Dom Luís Orione, “Messaggi di Don Orione” 77 (1991) cf. Também Pedagogia da Santidade in “Atti e comunicazioni della Curia generale”, 2008, n.225, p.3-16.].
Não há dúvida que Dom Orione, com seus Filhos da Divina Providência, viveu o sacerdócio na forma de sua apostolicidade típica, popular e ousada, voltada para a unidade da Igreja, ao redor do Papa e dos Pastores, mediante as obras de caridade. Este é um dado essencial para nós hoje – foi essa a missão carismática que devemos identificar e tomar como modelo; é este o seu e nosso exercício do ministério sacerdotal. O ser orionita dá qualificação interior e caracteriza a modalidade do nosso sacerdócio. [ A confirmação está também no fato que na definição de carisma, data por Dom Orione e depois transcrita nas Constituições, está totalmente ausente a referência ao sacerdócio. Os sacerdotes aparecem como uma das formas de vida, juntamente a outras, nas quais pode ser vivido o mesmo carisma; cfr Const 54. ].

A peculiaridade do religioso sacerdote consiste em viver e exercer o seu ministério em comunidade fraterna, seguindo uma particular dinâmica espiritual, na perspectiva da missão carismática comum. O sacerdócio não está “ao lado”, nem é uma “segunda identidade” com relação à vida religiosa, mas é expressão interna da identidade espiritual e apostólica do orionita, chamado a edificar e a difundir a Igreja mediante as obras da Caridade, incluindo a ação sacramental-pastoral. Isso vale tanto mais hoje que a Igreja recupera a Caridade como elemento constitutivo e ministerial da própria pastoral. Como lemos na carta Deus caritas est 22: “O exercício da Caridade… praticar o amor para com as viúvas e os órfãos, para com os encarcerados, os doentes e os necessitados de qualquer espécie faz parte da essência, tanto quanto o serviço dos Sacramentos e o anúncio do Evangelho. A Igreja não pode desleixar o serviço da Caridade, da mesma forma como não pode deixar de lado os Sacramentos e a Palavra”.

Nós, orionitas sacerdotes, fomos educados para não considerar sacerdotais somente os atos que requerem os poderes conferidos pelo sacramento da ordem, por mais excelsos que eles sejam, tais como são os atos sacramentais. “Padres da estola e do trabalho”, nos quis Dom Orione, porque“ não é somente o padre com a estola no pescoço que pode fazer o bem, mas também o padre que trabalha”.[ “O povo nos quer bem porque trabalhamos, porque o que nós pregamos, graças a Deus, fazemos. Não acreditam facilmente nos padres que andam a procurar as paróquias ricas e se limitam a fazer funerais. Seria inútil fundar uma nova Congregação, se ela não trouxesse uma nova onda de bondade na Igreja!”; Discurso aos clérigos no di 27/12/1933, Parola Vb, 232.]. Por isso a “diligente preparação ao sagrado ministério” dos religiosos orionitas aspirantes ao sacerdócio tem em conta, além da preparação para a “catequese, a pregação,o culto litúrgico e administração dos sacramentos” também “as obras de caridade” (Const 108). [A Norma 92 diz que “os Superiores… facultem (aos sacerdotes) a possibilidade de obter títulos, também em matérias técnicas e práticas, tendo presentes as exigências de nossas obras”.].

Esse estilo peculiar vale também para a estrutura das nossas obras: “Ao lado de cada obra de culto surja sempre uma obra de caridade”. [Tal orientação carismática foi critério e praxe: “Onde houver uma obra de culto, devemos ajuntar uma obra de caridade”; Parola 3, 148). “É nossa praxe criar sempre ao lado da obra de culto uma obra de caridade”; Scritti 53, 39. Cfr Riunioni, p. 81; Scritti 62, 55; 100, 195. Tenho certeza que se a nossa Congregação sentiu menos que outras a crise do religioso sacerdote e da paroquialização da vida religiosa, isso se deveu a essa sábia norma e tradição de unir obras e religiosos dedicados ao ministério paroquial e obras e religiosos dedicados ao ministério da caridade. E’ uma linha retomada com insistência em todos os últimos Capítulos.]. Todos recordamos muito bem como Dom Orione celebrou o seu jubileu sacerdotal junto ao clérigo Basílio Viano, doente, fazendo “aqueles serviços humildes, sim, mas santos que uma mãe faz para os seus meninos” e nos lembramos daquilo que ele depois escreveu: “Oh, muito melhor foi isso que todas as pregações que fiz… Senti que nunca tinha servido, de maneira mais sublime nem mais santa, a Deus no meu próximo, como naquele momento bem maior que todas as obras feitas nos vinte e cinco anos de meu ministério sacerdotal”. [Palavras escritas ao amigo Don Casa; Lettere I, 121-195..].

Estas anotações não devem se reduzir unicamente a características da espiritualidade pessoal do orionita sacerdote. [É costume ouvir expressões do tipo “o sacerdote è sacerdote, diocesano, franciscano, salesiano ou orionita, ou o quê mais”; “o pároco deve ser pároco e basta”; “estou na paróquia e faço o que devo fazer na paróquia; os outros que façam o que é dever deles”, coisas assim se dizem para justificar per falhas quanto ao dever de construir a síntese na própria identidade religioso-sacerdotal. ]. São indicações que apontam a estrutura da relação com a comunidade, com o apostolado de conjunto, com a finalidade carismática da Congregação. Do contrário, se cria o dualismo: religioso “e” sacerdote.

Concluindo, o sacerdócio do orionita se identifica, não pela exclusão de elementos, mas pela priorização da finalidade carismática do ministério da Caridade direcionado a fazer experimentar a paternidade de Deus e a maternidade da Igreja.

(Leia amanhã o sexto dia: "Prioridade da vocação religiosa")





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